De 2014 para cá, cidadãos de 54 cidades de São Paulo se tornaram mais expostos à violência, passando a conviver com uma rotina em que é cada vez mais frequente o registro de roubos, estupros e homicídios. A constatação é de um estudo inédito do Instituto Sou da Paz, antecipado com exclusividade pelo jornal O Estado de S. Paulo. Dados de crimes violentos compilados pelos pesquisadores da ONG mostraram que o Estado como um todo teve uma melhora na segurança.
O Índice de Exposição a Crimes Violentos (IECV) é composto por uma média ponderada de registros de homicídios e latrocínios (IECV Vida), estupros (IECV Dignidade Sexual) e roubos, roubos de veículo e de carga (IECV Patrimônio). Todos esses crimes têm como característica em comum a violência ou grave ameaça com as quais são praticados, e por isso foram escolhidos para compor um índice cujo objetivo é mensurar com mais precisão a sensação de insegurança. A divulgação do dado ocorrerá trimestralmente no Estado, em parceria firmada com o Sou da Paz.
As estatísticas de 138 cidades paulistas – todas que têm mais de 50 mil habitantes – mostraram como a criminalidade se comportou em diferentes regiões paulistas e o que é preciso para fazer que a diminuição da violência, mais explícita na capital com a queda nos homicídios, avance uniformemente também no interior e no litoral.
O diretor executivo do Instituto Sou da Paz, Ivan Marques, destaca que a percepção da violência afeta a vida das pessoas de formas diferentes, mas que a sensação de insegurança é uma só. “As causas da insegurança são muitas. Então nossa intenção, ao reunir diferentes crimes em um só número, é tentar medir como a ação criminosa afeta determinado território, levando a essa sensação de insegurança. Assim, o índice se transforma em uma espécie de termômetro, dizendo quem tem mais ou menos risco de também se transformar em vítima”, afirma.
O IECV de 2017 mostrou que a liderança do ranking das mais violentas pertence à cidade de Lorena, no Vale do Paraíba (mais informações na pág. A18), onde o índice foi de 54,4 – a média geral de São Paulo ficou em 21,3. O número de Lorena leva em consideração, por exemplo, o fato de o município de 87 mil pessoas ter uma das mais elevadas taxas de homicídios do Estado: 31,8 por 100 mil habitantes. Pesaram na conta os 464 roubos registrados no ano passado.
A comparação dos índices de 2017 com o que foi registrado em 2014, também elaborado de forma retroativa pelos pesquisadores, mostrou que em 54 cidades a exposição a crimes violentos aumentou no período. Além de Lorena, que foi a terceira com maior alta no índice (78,5%), cidades próximas como Campos do Jordão (147,2%) e Cruzeiro (46,8%) também estão com a segurança pública mais fragilizada.
Marques diz que, a partir da análise do que foi apresentado pelo índice, algumas regiões se revelaram como prioridades para uma possível intervenção em políticas públicas de segurança. “Três dos dez municípios onde a exposição aos crimes mais cresceu estão na região de São José dos Campos. Então, precisamos ter essa atenção.”
Queda
Soluções podem ser apresentadas com base na observação do que funcionou com municípios que conseguiram reduzir o índice, destaca o diretor do instituto. Entre 2014 e 2017, a queda foi mais acentuada em Ibitinga (54,1%), Valinhos (46,9%), Atibaia (46,7%) e Itatiba (46,1%).
O que impediu uma queda mais significativa no Estado, que saiu de 23 para 21,3 no índice em três anos, foram os estupros. Esse tipo de crime foi um dos dois únicos que subiram nas estatísticas da criminalidade em 2017. Trinta casos foram registrados por dia no Estado no ano passado, chegando ao recorde de 11.089 crimes – o IECV Dignidade Sexual saiu de 35,7 em 2014 para 38,3 em 2017.
Procurada, a Secretaria da Segurança Pública destacou “que vem aperfeiçoando os atendimentos e acolhimentos às vítimas” e destacou o avanço das denúncias com as campanhas de esclarecimento. Quanto aos dados gerais do novo índice, frisou que “diversas políticas públicas de segurança vêm sendo implementadas para que São Paulo apresentasse a menor taxa de homicídios do País”. Em nota oficial, citou também contratação de policiais e aquisição de viaturas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.