À porta do Hospital Municipal Souza Aguiar, a maior emergência do Rio, a dona de casa Graciela da Silva Fernandes, de 37 anos, tentava no início do mês manter a serenidade diante do que ouvira da enfermeira que atendera a mãe, com câncer de intestino e necessitando de cirurgia de urgência: “Não tem vaga”. Damiana da Silva, de 75 anos, chegara à unidade, no centro da cidade, no dia anterior, após três meses em busca de uma resposta para a longa crise de diarreia e de dores abdominais que lhe roubou 20 quilos.

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“Ela fez exame de sangue, fezes, urina e ultrassom, e tanto a Clínica da Família quanto a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) trataram com se não fosse nada. Mandavam para casa com remédio para desarranjo. Chegamos aqui, fez uma tomografia, e é um tumor, que tem que ser operado já”, contava.

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Segurando as lágrimas, na tarde do dia 9, Graciela contava o que Damiana passara. “Deixaram minha mãe numa cadeira de plástico, sendo que ela tem histórico de trombose. Não conseguia ficar nem deitada sem dor, imagina sentada por horas e horas. No corredor, tinha gente no chão, coberto só com um lençol. É muita humilhação, é desumano.”

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Dados do Sistema de Informações Hospitalares do SUS mostram que o número de internações no Souza Aguiar passou de 9.571 em 2015 para 8.397 em 2016, uma redução de 12%. No Miguel Couto, da mesma rede, emergência de referência na zona sul, a queda foi de 11.035 para 10.391, ou 5,8%. A série histórica revela que de 2011 para cá a unidade registrou encolhimento das internações de 20%.

Integrante da Comissão de Saúde da Câmara Municipal e diretor do Miguel Couto nos anos 1980/1990, o vereador Paulo Pinheiro (PSOL) disse que a explicação está no aumento da chegada de casos complexos às emergências. Eles demandam tempo maior de internação.

O recrudescimento da violência verificado nos últimos anos, afirmou ele, tem feito com que os ferimentos a bala sejam mais severos. “E as pessoas já chegam em estado muito grave porque não conseguem se tratar na rede básica. Muitas perderam o emprego e o plano de saúde.”

Já a Secretaria Municipal de Saúde do Rio afirmou que a ampliação da cobertura da rede básica, que trata quadros de cardiopatia, asma, diabete e hipertensão, por exemplo, fez cair a proporção de internações, por reduzir o agravamento das doenças. “Em 2008, das internações clínicas nas unidades, 31,9% eram por agravamento dessas condições. Em 2015, esse índice caiu para 19,6%, chegando a 18,8% em 2016”, informou a pasta.

Perda

Para o presidente da Federação Nacional dos Médicos, Jorge Darze, que acompanha o quadro da saúde no Rio desde os anos 1970, a mudança nos números passa pelo fechamento de leitos e a redução de equipe nos hospitais. “O Estado perdeu 4 mil leitos nos últimos anos, e não há concurso.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.