Rio se inspira em cidade colombiana e busca mudanças

Na Rua da Grota, principal acesso ao Complexo do Alemão, conjunto de 12 favelas no Rio de Janeiro onde vivem 170 mil pessoas, em vez das barricadas erguidas por traficantes para impedir a entrada do Caveirão – blindado da polícia que cospe fogo para todos os lados – existem entulhos de casas que foram desocupadas para o alargamento da rua.

No Largo do Coqueiro, em cima do morro, a Igreja Batista ainda tem paredes e vitrais marcados pelas balas da operação policial ocorrida em 2007, que deixou 19 mortos. Mas o ambiente mudou no cume da Montanha do Itararé. Na quinta-feira, um canteiro de obras funcionava a todo vapor, com mais de cem pessoas trabalhando em turnos seguidos, para conseguir entregar até setembro as cinco estações planejadas do teleférico que vai levar diariamente 30 mil pessoas, em um percurso que sai do asfalto e passa pelas cinco montanhas que formam o Complexo do Alemão.

Inspirado em programas desenvolvidos na cidade colombiana de Medellín, com orçamento de R$ 750 milhões, quase metade vinda do Programa de Aceleração e Crescimento (PAC), o Governo do Rio finaliza atualmente um pacote de investimentos sociais que pretende transformar a região. Além do teleférico, que vai consumir R$ 172 milhões, serão construídas escolas, um centro cívico, parques, residências e ruas comerciais, entre outras obras que já consumiram R$ 389 milhões.

Conforme publicou ontem o jornal O Estado de S. Paulo, apesar dos investimentos sociais feitos em Medellín, os homicídios voltaram a crescer 177% nos últimos dois anos. O repique da violência ocorreu depois da extradição para os Estados Unidos do chefe da Oficina de Envigado, Diego Murillo, conhecido como Don Berna, cuja ausência provocou um racha e disputas por poder.

Trégua no Alemão

No Rio, para tornar viáveis os investimentos em uma das áreas mais conflituosas da cidade, uma complexa engenharia social vem sendo montada com a participação de entidades da sociedade civil, que fazem a intermediação de interesses do governo, comunidade e traficantes. Dessa forma, ajudam a manter em trégua a região do Complexo do Alemão.

A partir dessas conversas, os traficantes se comprometem a não atrapalhar as obras. Como não há confusão, os policiais não sobem o morro. E as empreiteiras podem cumprir seus prazos sem grandes percalços. “Todos querem as obras aqui na comunidade, inclusive os traficantes, que têm familiares e amigos no Alemão. Por isso, os trabalhos estão seguindo bem”, explica o coordenador executivo do AfroReggae, José Júnior, peça chave na mediação entre as partes.

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