A classe A, que registra as piores coberturas vacinais no Sudeste do País, tem informações vagas sobre as vacinas infantis e medo de reações adversas. Também delega a atualização da carteirinha de vacinação ao médico de confiança, sem grande preocupação com o documento. É o que revela pesquisa qualitativa feita em cinco capitais brasileiras pelo Centro de Estudos Augusto Leopoldo Ayrosa Galvão (Celag), da Santa Casa de São Paulo, e financiada pelo Ministério da Saúde e Organização Pan-Americana (Opas).
A situação, cogitam os pesquisadores, seria reflexo de orientação inadequada de profissionais de saúde do setor privado, que, no estudo, demonstraram pouco conhecimento técnico sobre os imunizantes. Os próprios pediatras da rede privada indicaram não ter informações aprofundadas sobre as vacinas infantis preconizadas pelo Programa Nacional de Imunização – sobre componentes das vacinas e reforço de doses, por exemplo. Profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS) mostraram ter preparo.
Já pais e cuidadores da classe E – que reúne os mais pobres, que frequentam o SUS e têm melhores coberturas vacinais – indicaram grande preocupação com a atualização das carteiras. Os resultados podem ser atribuídos à força das campanhas de vacinação e à necessidade da carteirinha atualizada para, por exemplo, ter acesso às creches públicas.
A pesquisa, qualitativa, é a segunda parte de um inquérito de cobertura vacinal divulgado em 2008 e que mostrou que a vacinação na classe A, no Sudeste do País, está abaixo da meta e é pior do que na classe E. Na região, apenas 68,9% das crianças com 18 meses de famílias mais abastadas tinham recebido todas as doses de vacinas do calendário oficial, que combatem doenças como tuberculose, meningite, hepatite B, paralisia infantil e sarampo. A meta era cobertura de 95%. Por se tratar de um estudo qualitativo, o trabalho divulgado agora apenas destaca quais foram os discursos predominantes entre cuidadores e médicos. Foram ouvidas 294 pessoas, no segundo semestre de 2008, em Belém, Florianópolis, Goiânia, Recife e São Paulo.
“Não existe especificidade de conhecimento (da vacina na classe A), ela considera que a responsabilidade é do médico. É uma delegação consentida, que dispensa o conhecimento”, diz o epidemiologista José Cássio de Moraes, que coordenou o trabalho. “O que a pesquisa reforçou agora é que o principal motivo para não estar vacinado nessa classe é a falta de orientação do profissional.”