No setor da aviação, se patrões e empregados continuarem irredutíveis durante reunião que acontece nesta tarde no Ministério Público do Trabalho (MPT), em Brasília, os feriados de Natal e ano-novo poderão ser marcados por greve de aeronautas e aeroviários e caos nos aeroportos. O encontro, recomendado pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, de acordo com a presidente do Sindicato dos Aeroviários, Selma Balbino, tem como objetivo a busca de entendimento para o impasse salarial que evite a greve no setor, prevista começar na próxima quinta-feira. Os aeronautas são os profissionais que tripulam os voos (comissários, pilotos e copilotos) e os aeroviários são aqueles que atuam em solo, como mecânicos e pessoal de check-in.
Inicialmente, o sindicato dos trabalhadores reivindicava 15% de reajuste nos salários dos aeronautas e 13% para os aeroviários. Contudo, as empresas – representadas pelo Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea) – não querem avançar além do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), de 6,08%, acumulado dos últimos 12 meses (até novembro). A Assessoria de Imprensa das empresas aéreas informou à Agência Estado que os trabalhadores interromperam, na semana passada, as negociações que vinham sendo mantidas entre as partes, num gesto de intransigência. Essa ruptura do diálogo é que teria levado Jobim a recomendar a busca de entendimento entre as partes.
A presidente do Sindicato dos Aeroviários contesta a informação do sindicato patronal. “Eles mentem muito. É o que sabem fazer”, ironizou a sindicalista. “Temos todas as atas das reuniões que provam isso. Só não temos a última porque eles é que tinham de fazê-la e mandar para nós assinarmos. Até agora não nos enviaram a ata”, reclama Selma, acrescentando que os empregados concordaram, inclusive, em unificar o pedido de reajuste (para aeronautas e aeroviários) em 13%. Ainda nas críticas, Selma diz que as empresas aéreas estão ganhando muito dinheiro: “Só nos primeiros nove meses de 2010, o número de passageiros em voos internacionais cresceu 29,13% e nos nacionais, 25,61%.”
A avaliação da sindicalista quanto ao ganho das companhias é contestada pelo sindicato patronal. De acordo com a Assessoria de Imprensa do Snea, as empresas estão tendo apenas lucro operacional, e não contábil. “O setor aéreo foi o único que cortou gastos e transferiu (tal corte) para os bilhetes. As passagens estão mais baratas e estão sendo vendidas com prazo para serem pagas a perder de vista”, defende a assessoria do Snea.
Para Selma, há incoerência no discurso dos empresários do setor. Ela cita que no ano passado, quando a economia estava ainda sob o impacto da crise econômica internacional deflagrada em 2008, as companhias concederam reajuste salarial repondo o INPC mais um ganho real em torno de 2%, o que resultou em um aumento de 8%.
Caos
Mesmo que não haja greve dos aeronautas e aeroviários neste fim de ano, quem planeja viajar no Natal e no ano-novo deverá encontrar “um verdadeiro caos nos aeroportos do País”, na avaliação do consultor econômico do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Cláudio Toledo. Ao chegar à sede do MPT, os representantes dos trabalhadores afirmaram que as empresas aéreas já venderam mais assentos do que comporta a estrutura aeroportuária brasileira. “O caos já está instalado. Essa história de que a greve é que causará o problema é um discurso terrorista das empresas”, afirmou Toledo à Agência Estado.
Segundo ele, no entanto, a paralisação prevista para a próxima quinta-feira poderá ser evitada se na reunião do MPT as empresas aéreas oferecerem um reajuste de dois dígitos. “Dois dígitos seria razoável, mas a decisão dependerá da Assembleia-Geral dos Trabalhadores, que já está marcada para quinta-feira, às 5 horas da manhã. Se (a proposta das empresas) não for aceita, às 6 horas a categoria inicia a greve”, disse Toledo.
De acordo com o representante dos trabalhadores, a proposta de reajuste foi apresentada pela categoria no dia 30 de setembro, mas apenas no dia 8 de dezembro, mais de 70 dias depois, as empresas apresentaram uma contraproposta. “Ou seja, a greve poderia ter sido feita em novembro”, completou Toledo. Além disso, afirmou, as empresas tentam alterar a data-base do reajuste de 1º de dezembro para 1º de abril.
A última greve geral do setor ocorreu no carnaval de 1988, há mais de 22 anos. Os trabalhadores alegam que, apesar do crescimento nos últimos cinco anos, o setor ainda paga baixos salários com uma jornada de trabalho excessiva.