O representante do Brasil no Fundo Monetário Internacional (FMI) Paulo Nogueira Batista Júnior, disse que acredita que a atual turbulência nos mercados financeiros internacionais seja uma nova crise externa e não uma situação temporária. "Estou pendendo para a idéia de nova crise e não de espasmo temporário" disse o economista, destacando que em períodos de crise são revelados novos problemas e que, na atual situação, o problema não está mais limitado às hipotecas, mas se espalhando por outros setores e gerando dificuldades para grandes instituições financeiras.
Ele destacou que, diferentemente daquelas ocorridas nos anos 90, cujos focos foram países emergentes, esta potencial crise tem origem nos Estados Unidos, centro da economia mundial. Segundo Batista Jr., um risco importante é uma eventual atuação atrasada dos Bancos Centrais, como ocorreu no Japão nos anos 80 e colocou aquela economia em letargia durante anos. Mas observou que os BCs, por enquanto, têm tido atuação rápida com injeções enormes de liquidez no mercado.
O representante classificou a situação internacional como preocupante e afirmou que, nesse contexto, o papel do FMI é limitado e se dará mais no sentido de ajudar países que sentirem os efeitos colaterais da crise. Segundo ele, a economia dos EUA tem um porte muito grande para ser eventualmente socorrida pelo FMI, situação "que seria irônica", mas que acredita que não vá ocorrer.
Reservas
Batista Jr. afirmou que a situação internacional é "preocupante" e disse que neste contexto é importante que o Brasil tenha cautela e mantenha o processo de elevação das reservas internacionais. O economista evitou dizer qual seria o montante ideal de reservas, mas destacou que um indicador interessante para se julgar um nível adequado é a relação das reservas com o todo o passivo de curto prazo do país.
Enfatizou ainda ser importante, para o Brasil enfrentar crises externas, que seja preservada a conquista do superávit em conta corrente, evitando períodos prolongados de valorização cambial. "É preciso ter mecanismos de autodefesa, pois o mundo é perigoso e as instituições multilaterais são controladas pelos países desenvolvidos", declarou. Para ele, embora os problemas nos mercados afetem todo mundo, inclusive o Brasil, a economia real do país não necessariamente será afetada porque hoje está mais forte se comparada aos anos 1990, quando sentiu as crises internacionais.
Juros
O representante do Brasil no FMI defendeu a continuidade da redução da taxa de juros básica no Brasil. Ele destacou que, apesar das quedas que vêm ocorrendo há algum tempo, o juro real no País ainda é alto e cerca de três vezes acima da média do juro real praticado em 40 dos principais mercados do mundo.
"O juro real ainda é alto e há espaço para reduzir mais", disse. Para o economista, a manutenção da trajetória de redução da taxa básica vai facilitar o processo de acumulação de reservas internacionais, porque reduz custos de carregamento das reservas. "Se o BC reduz o juro pode aliviar a dívida e o custo de carregamento das reservas.
Dívida
Batista Jr. afirmou ainda que a vulnerabilidade principal da economia brasileira é a estrutura da dívida pública, que é relativamente de curto prazo e tem muita liquidez. "Em um momento de turbulência mais forte, com o movimento de saída de capital, os investidores trocariam facilmente títulos públicos por dólar, o que faria pressão enorme sobre o câmbio levando ao uso das reservas internacionais em uma situação semelhante à de 2002", disse o economista.
Ele destacou, no entanto, que a estrutura da dívida brasileira melhorou nos últimos tempos, com o alongamento de prazo e uma mudança de perfil com maior parcela de títulos prefixados indexados a índices de preços. Nogueira Batista Júnior destacou que esse movimento, por causa dos juros elevados no Brasil, gerou um custo adicional para o Tesouro Nacional. O representante do Brasil no FMI participou hoje de audiência pública na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados.