Repercussão de manifestação do movimento negro preocupa PPS

O PPS está preocupado com a repercussão da manifestação que o movimento negro promove amanhã em Salvador, quando deverá ser divulgado um manifesto criticando o candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes (PPS), por ter tratado de forma pejorativa um estudante negro durante um debate realizado na última terça-feira na Universidade de Brasília (UnB).
 O presidente nacional do PPS, Roberto Freire, voltou a insistir na tese segundo a qual a manifestação programada para amanhã no Pelourinho teria sido insuflada pelo PT, inclusive pelo publicitário Duda Mendonça, marqueteiro do PT, partido que, segundo o PPS, teria montado uma provocação em Brasília para deflagrar este episódio.
 – Querer nos impor a pecha de racismo é desrespeitar toda a história da esquerda brasileira. O antigo PCB e os negros são parceiros na luta contra o racismo e o primeiro movimento negro do Brasil foi criado por um militante do antigo partidão – disse o senador.
 – Entre os candidatos a presidente, Ciro Gomes foi o único que até agora foi a uma universidade para discutir a polêmica questão de cotas para negros nas universidades e repartições brasileiras. Os outros até o momento ainda não se pronunciaram – lembrou Roberto Freire.
 Durante o debate em Brasília, o estudante negro Rafael dos Santos, 27 anos, pediu o microfone para falar sobre a reserva de negros na universidade. O microfone não lhe foi entregue e Ciro afirmou que só por ser ?negro e bonitinho? ele não teria direito a desrespeitar as regras do debate. Segundo Roberto Freire, nenhum estudante teve acesso ao microfone porque as regras impunham que as perguntas fossem dirigidas ao candidato por escrito.
 – Nenhum estudante falou ao microfone. Só o do PT não aceitou as regras do jogo e as vaias dirigidas a Ciro no debate também foram de militantes do PT – disse hoje o senador em Recife. E acrescentou:
  – O PPS não aceita a pecha de racista contra quem na República tem muita história a contar. O PPS foi o primeiro partido a discutir essa questão nessa campanha eleitoral e está disposto a conversar. Fazemos parte de um movimento e não é de hoje, e não é bandeira eleitoreira. A questão do negro no Brasil é muito séria para ser usada de forma eleitoreira – reclamou Roberto Freire.
 – O PT que tenha cuidado e evite usar bandeiras tão importantes quanto a questão do negro para fins eleitoreiros – disse Freire.
 E voltou a insistir na tese de que o militante Zulu Araújo foi procurado por um emissário de Duda Mendonça, o marqueteiro do PT, para que fosse deflagrado um movimento acusando Ciro de racismo. Duda negou o fato, Zulu mais uma vez o confirmou, mas disse que o movimento de amanhã é espontâneo, apartidário e independe de qualquer tipo de pressão:
 – Tanto que será vetado o microfone para candidatos de qualquer partido, assegurou Zulu, que é coordenador do Centro de Estudos e Pesquisas Mário Gusmão, uma instituição do Forum de Entidades Negras da Bahia. Ele é filiado ao PPS, mas também não gostou da frase de Ciro, que considerou ?muito infeliz?. E informou que o Fórum de Entidades Negras está convocando os quatro principais presidenciáveis para um debate sobre a questão racial brasileira. O encontro deverá ser em Salvador. Hoje o PPS da Bahia distribuiu uma nota considerando que ?o epsódio ocorrido na UnB não pode sob nenhuma hipótese ser utilizado para manipulações político eleitorais como vêm tentando alguns segmentos?.
 ?Consideramos ainda que esta discussão não pode se dar exclusivamente no âmbito da polêmica proposta sobre as cotas. Embora grande parte do nosso partido concorde com tal procedimento, sabemos e respeitamos as opiniões contrárias existentes no nosso seio?, afirma a nota. Nem tanto. Na noite do sábado, o próprio presidente do PPS, Roberto Freire, envolveu-se em um incidente sobre o assunto na cidade de Petrolina, após o comício de Ciro Gomes.
 Candidato ao Senado pelo PPS, o economista Nelson Borges disse para Zulu que era contra a política de cotas por achá-la discriminatória, durante um jantar na casa do deputado federal Clementino Coelho (PPS-PE). Zulu exaltou-se, Borges também e os ânimos se acirraram. Freire levantou-se da mesa vizinha, aumentou o tom da voz para reduzir a discussão entre os dois e disse a Borges que se ele mantivesse aquela posição Freire não votaria mais nele para o Senado.
 – Desse jeito você vai perder meu voto. A cota para negros é necessária enquanto persistirem as disparidades sociais entre negros e brancos – repreendeu Freire.
 Zulu ouviu a reprimenda de Freire contra Borges, mas não se conformou. E disse para Borges que poderia até respeitá-lo como pessoa, mas que não tinha ?respeito nenhum pela sua etnia?.

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