A desigualdade entre a nota dos alunos de escolas públicas pobres e ricas aumentou na maioria dos Estados do País. Embora o desempenho geral dos estudantes de escola pública esteja melhorando no quadro geral, a diferença de renda está pesando mais no resultado final. O quadro é mais acentuado em Estados do Norte.
A diferença no desempenho desses alunos em Língua Portuguesa é maior em 17 Estados do País em relação a 2009. Isso é o que mostraram os dados da Prova Brasil, a avaliação oficial feita pelo governo federal cujos resultados foram divulgados na quinta-feira. Em Matemática, a desigualdade aumentou em dez Estados.
A equidade na evolução dos resultados educacionais é vista por especialistas como um dos fatores mais importantes para avaliar a qualidade das redes educacionais. O risco é que a escola, em vez de servir como meio de equilibrar desigualdades já existentes na sociedade, possa acirrá-las. No ranking dos dez Estados mais desiguais em Língua Portuguesa em 2015, sete estão no Norte.
Especialistas apontam que diversos motivos podem explicar essa diferença no desempenho. Entre eles estão problemas de falta de infraestrutura das escolas nas regiões mais periféricas, carência de aulas de reforço e de professor assistente para os alunos com mais dificuldade, falta de estrutura familiar e até desestímulo à permanência dos melhores professores.
Os dados constam de um estudo elaborado pelo Instituto Ayrton Senna (IAS), a pedido do Estado. Para calcular o desempenho dos estudantes, foram utilizadas as notas dos anos iniciais do ensino fundamental (1.º a 5.º) de 2015, com dados de nível socioeconômico de 2013, pois os mais atuais ainda não foram divulgados pelo Ministério da Educação. O Estado do Amazonas aparece no topo do ranking da desigualdade em ambas as disciplinas. Em Matemática, a diferença de pontos é de 37,7, enquanto em Língua Portuguesa chega a 48,6.
Essa diferença pode representar mudanças significativas no conhecimento dos estudantes nessas disciplinas. Na escala de proficiência de Língua Portuguesa, a média dos alunos mais pobres indica que eles não conseguem, por exemplo, localizar informações explícitas em reportagens, propagandas ou reconhecer a relação de causa e consequência em poemas, contos e tirinhas. Já na parcela mais rica, os alunos já conseguem identificar assuntos comuns a duas reportagens e o efeito de humor em piadas, por exemplo. Em Matemática, a média dos alunos mais ricos já demonstra que eles são capazes, por exemplo, de converter uma hora em minutos e interpretar horas em relógios de ponteiros, diferentemente dos estudantes de instituições mais pobres.
O diretor de articulação e inovação do IAS, Mozart Neves Ramos, ressalta que essa diferença na oferta de ensino pode piorar a desigualdade já existente na sociedade. “Em vez de ajudar a compensar as possíveis diferenças de oportunidades que o nível socioeconômico acaba impondo aos estudantes, o sistema educacional acaba reforçando ainda mais essas distorções”, diz. Para o economista e professor do Insper Sérgio Firpo, é importante que os gestores não se preocupem apenas com a média geral do Ideb, mas com as diferenças entre as escolas. “É possível aumentar a média sem fazer com que todo mundo melhore por igual e isso parece ser a principal lição que esses dados mostram”, diz.
Fatores – O nível socioeconômico é um dos fatores que mais impactam o desempenho da escola, mas não define o destino dessas unidades. Características como oferta de reforço escolar, menor rotatividade de professores, número de falta dos alunos e até o acesso prévio à pré-escola ou à creche podem fazer com que a unidade melhore, ainda que em condições de pobreza.
É o que aponta um levantamento realizado pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), feito também a pedido do Estado. O Cenpec utilizou os microdados do Ideb de 2009 a 2013, mostrando as características das escolas que apresentaram melhora ou piora na nota neste período. Uma alta na proporção de alunos de classe D e E pode alterar a nota da escola: a cada 1% a mais de estudantes nessas faixas, em relação aos de classe A e B, a estimativa é de que haja uma redução de melhora na nota em 4%.
Se os alunos repetiram alguma série, também há mais chance de uma nota mais baixa: 3,3%. Mas um dos fatores que mais afetam a melhoria dos estudantes está relacionado à escola: se a unidade oferecer reforço escolar, a chance de elevar a nota é de 48,4%. Tão importante quanto o reforço são as faltas dos docentes. Com elas, a chance de melhorar a nota cai 19,1%. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.