Brasília – O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), defendeu ontem que o PT "compartilhe o poder", ao falar a jornalistas em café da manhã em sua residência oficial. "O PT precisa compartilhar o poder", pregou Renan, depois de qualificar o PMDB como "insubstituível na solução para a governabilidade", desde que as suas correntes estabeleçam uma aproximação política neste sentido. Renan Calheiros afirmou que a coalizão, para ser formada, exige clareza do governo sobre o papel político e administrativo de cada um dos partidos políticos que integram a base aliada.
A viabilização desta coalizão passa necessariamente pela estruturação de um novo modelo de coordenação política com a adequada redistribuição de competências, afirmou o senador, sem indicar se esta reformulação exigiria o afastamento do atual ministro da coordenação política, Aldo Rebelo (PcdoB-SP). "Esta coalizão é necessária para os partidos participarem do governo sabendo o que estão fazendo, qual é o papel de cada um." "Tem que ter um programa (de governo) que unifique o partido; um modelo de trabalho para cada partido saber o que vai fazer", defendeu. Calheiros disse que o presidente vai chamá-lo para discutir a reforma ministerial, mas ainda não há data definida para isso.
O senador afirmou que qualquer iniciativa para aproximar o Poder Executivo do Congresso deve ser incentivada, pois segundo ele, uma das razões da eleição do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), é o difícil relacionamento entre deputados e os ministros do governo.
Segundo o senador, este será um ano de radicalização política por ser pré-eleitoral e é preciso buscar a conciliação com a oposição e estabelecer alianças dentro da base governista para formar uma coalizão política em torno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A coalizão já chegou a ser defendida recentemente pelo governo, mas a proposta perdeu força na discussão da reforma ministerial. Na prática, a proposta de coalizão é uma tentativa de atrair a ala peemedebista comandada pelo presidente do partido, Michel Temer (SP), que apoiou o governo de Fernando Henrique Cardosos e alinha-se com a oposição ao atual governo.
Renan defendeu a realização das reformas política e da tributária, que, na sua opinião, serão viabilizadas pelo Congresso se houver suficiente pressão da opinião pública para sua aprovação. O senador reúne amanhã, em sua residência oficial, para discutir a reforma política, os presidentes dos partidos, líderes das duas Casas do Congresso, além do relator da reforma política no Senado, o presidente da Transpetro e ex-senador Sérgio Machado, e o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE).
Renan Calheiros prega a discussão dos pontos que dificultam a votação do projeto e admite a possibilidade de votá-lo em partes, para viabilizar um acordo sobre o tema. Entre as prioridades, está o instituto da fidelidade partidária, prevendo até a perda de mandato em caso de mudanças de partidos.
"Troca-troca" partidário é lamentável
Brasília – O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), lamentou ontem o troca-troca partidário que tem afetado o PMDB. Segundo o senador, o Brasil perde com "a briga interna" entre os peemedebistas. A situação, na avaliação do senador, demonstra a urgência da reforma política."Essa coisa do troca-troca, da migração, da locação, do aluguel, contaminava as legendas menos expressivas e começa, agora, a contaminar as grandes legendas. Pelo amor de Deus, isso tem que acabar", afirmou.
Durante um café da manhã com jornalistas, hoje, o senador ressaltou que a reforma política, com a criação da cláusula de barreira, pode, sobretudo, acabar com os pequenos partidos de aluguel. "Claro que, na conjuntura nacional, isso começa a contaminar os outros partidos, os maiores partidos. O PMDB é um pouco vítima disso", afirmou.
Calheiros lembrou que o PMDB é um grande partido com 17 candidatos favoritos nos estados. Segundo ele, o atual presidente, deputado Michel Temer (SP), precisa agir com isenção e deve voltar a ser um magistrado. "O presidente não pode ser a vanguarda de uma única corrente", destacou. O parlamentar alagoano disse que deve trabalhar pela convergência e que, na hora em que o PMDB é essencial para governabilidade, o partido não pode minimizar seu papel.
Entre as mudanças previstas na reforma política, em análise na Câmara, estão o financiamento público de campanhas; a implantação das listas fechadas, pelas quais o eleitor passará a votar em chapas organizadas pelas convenções partidárias; e o fim das coligações nas eleições proporcionais, com a criação de federações partidárias, às quais os partidos deverão permanecer filiados por no mínimo três anos.