O partido Democratas pode apresentar à Mesa Diretora do Senado esta semana a quinta representação contra o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), pedindo a cassação de seu mandato por quebra de decoro parlamentar. Acusado de mandar espionar os senadores Demóstenes Torres (DEM-GO) e Marconi Perillo (PSDB-GO) Renan terá de vir a público e prestar esclarecimentos sobre a denúncia, para evitar novo processo.

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"Não podemos entender a notícia como verdade absoluta, mas se impõe que Renan dê explicações sobre este assunto o mais rápido possível e que o (ex-senador) Francisco Escórcio, que é seu funcionário no gabinete da presidência, fale ou seja demitido", cobra o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN). Escórcio está sendo acusado de participar da operação de espionagem dos dois senadores que estão na linha de frente contra Renan no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado. A notícia foi publica na sexta-feira no blog do jornalista Ricardo Noblat e na revista "Veja" desta semana.

Amanhã mesmo, Agripino vai procurar o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), propondo que os dois partidos avaliem juntos a "consistência" das explicações de Renan. "Se as explicações não forem convincentes, vamos entrar com uma representação conjunta. Na hipótese de os fatos denunciados serem verazes, trata-se do supra-sumo da quebra de decoro", antecipa Agripino, destacando que a razão de sua cautela é evitar precipitações. "Minha indignação é completa, mas quero agir com segurança", insiste o democrata.

Foi Demóstenes quem procurou Agripino na sexta-feira, pedindo a ele que convocasse uma reunião extraordinária da executiva nacional do Democratas na terça-feira, para decidir sobre a nova representação contra o presidente do Senado. "Esse Renan não tem limite", afirma Demóstenes. Ele conta que soube do caso pelo ex-deputado Pedro Abrão (PTB-GO), que é dono de um hangar de táxi aéreo no Aeroporto de Goiânia. Escórcio se defendeu e disse que as acusações não têm o menor cabimento.

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De acordo com a denúncia, é neste hangar que os supostos "arapongas" de Renan planejavam instalar câmeras de vídeo para filmar os embarques e os desembarques dos parlamentares. O objetivo seria tentar flagrar Demóstenes e Perillo em alguma atividade ilegal, para depois chantageá-los em troca de apoio. Mas Pedro Abrão não só se recusou a participar do esquema, como procurou Demóstenes para avisá-lo.

"Esse pessoal está achando que eu sou bandido, mas eu não sou bandido não", disse Abrão a Demóstenes, segundo relato do próprio senador. Abraão garantiu-lhe ter ouvido de Chiquinho Escórcio que a operação envolvia outras pessoas e que a idéia era montar um dossiê contra os dois senadores que estavam "batendo demais em Renan", no Conselho de Ética.

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"O plano só não foi em frente porque o dono do hangar não permitiu", insiste Demóstenes. "Este caso é pior do que Watergate", protestou o senador, referindo-se ao escândalo que provocou a renúncia do presidente norte-americano Richard Nixon, sob a acusação de espionar o adversário na campanha.

"Lá a espionagem foi política, e esta aqui é civil e criminal", define Demóstenes, inconformado com a participação de Escórcio no episódio. "Não tem cabimento mandar um funcionário do seu gabinete, um desqualificado do submundo da política, cumprir esta missão", critica o senador, ao classificar Escórcio de "vagabundo e maloqueiro".

O corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), está em missão oficial no Uruguai, mas já tomou conhecimento da denúncia e, assim que chegar de Montevidéu na quarta-feira, tomará as providências para que a corregedoria comece a investigar o caso. Ele consultará a Polícia Federal para saber se já existe alguma investigação sobre a suposta operação de espionagem e, se houver algo em curso, pedirá que o trabalho seja enviado à corregedoria.