Oito meses após o acidente na central nuclear Fukushima Daiichi, no Japão, técnicos da Eletronuclear concluíram um relatório que prevê 52 iniciativas a serem adotadas nas usinas de Angra dos Reis (RJ). O investimento necessário foi estimado em R$ 300 milhões até 2015, mas poderá dobrar, caso seja aprovada a construção de uma pequena central hidrelétrica em Angra.

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O chamado Plano de Resposta a Fukushima será entregue na quarta-feira à direção da Eletronuclear, responsável pela operação de Angra 1 e Angra 2 e pela construção de Angra 3. A empresa, subsidiária da Eletrobras, deverá aprovar o documento e encaminhá-lo à Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), órgão de controle da atividade nuclear no País.

Todas as pesquisas ligadas a catástrofes naturais vão ser desenvolvidas diretamente por universidades e centros de pesquisa, como a Coppe (que congrega os cursos de pós-graduação em engenharia da UFRJ), a PUC e a UFRGS. Já estão previstas uma reavaliação da estabilidade das encostas no entorno das usinas de Angra e novos estudos sobre a ocorrência de terremotos, tornados, furacões, movimentos do mar e inundações por eventos externos na região.

Segundo o assessor da diretoria técnica da Eletronuclear, Paulo Carneiro, pelo menos R$ 100 milhões serão destinados ao capítulo das catástrofes naturais. “Os estudos é que vão definir se haverá necessidade de intervenção ou não. Serão desenvolvidos ao longo do primeiro semestre de 2012”, disse ele. “Haverá ações ligadas à verificação de como a planta reage a essas situações de catástrofes naturais, além de uma série de melhorias de sistemas, equipamentos e procedimentos para permitir aos operadores melhores condições de controlar as consequências desse tipo de acidente”, acrescentou Carneiro.

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Na parte de equipamentos, a Eletronuclear deverá adotar geradores móveis a diesel como “recurso adicional” em caso de emergência. O custo, nesse caso, ficará entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões. O uso de geradores móveis de energia e a ampliação do raio de proteção da população no entorno da central em caso de emergência foram algumas das medidas sugeridas por especialistas ouvidos pelo Estado após a tragédia no Japão.

Segundo Carneiro, o Plano de Resposta é “bem mais abrangente e detalhado” que o primeiro estudo de reavaliação pós-Fukushima, encaminhado à Cnen em agosto. “Tem custos e prazos. É um plano executivo.” Os estudos de viabilização de uma hidrelétrica de 60 megawatts no Rio Mambucaba estão incluídos no plano, mas não se trata de uma prioridade, diz o assessor. “É uma boa solução técnica, porém sua viabilização envolve aspectos de licenciamento ambiental, outorga de utilização da água. Não queremos concentrar as soluções na central hidrelétrica. As alternativas de resfriamento não incluem a pequena central. Ela é um plus que pode vir a ser implementado.”

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Durante o Workshop Cenário Pós-Fukushima, realizado na sede da Cnen, o assistente da presidência da Eletronuclear, Leonam dos Santos Guimarães, criticou o governo da Alemanha, que anunciou recentemente o abandono progressivo da energia nuclear. Carneiro, que falou sobre a “Segurança das usinas de Angra à luz das lições aprendidas com Fukushima”, disse que está “sob forte pressão” do governo para concluir Angra 3 até 2015 – o investimento é de R$ 9,5 bilhões. O ex-presidente da Comissão de Energia Atômica do Japão, Yoichi Fujii-e, reconheceu que houve falhas no treinamento de operadores e problemas na comunicação do acidente.