Relatório do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) diz que um dos principais traficantes do País planejava sequestrar uma autoridade pública e, como resgate, negociar com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, sua libertação de um presídio federal. O alerta levou a Polícia Federal a providenciar escolta à filha do ministro, Mayra Cardozo, de 22 anos, também identificada em investigações como possível alvo de um ataque. Ela vive cercada de agentes.
O plano foi descoberto em maio de 2011, durante investigações da Coordenação-Geral de Informação e Inteligência Penitenciária, vinculada ao Depen. Conforme o documento, o sequestro envolveria esquema sofisticado, que consumiria R$ 3 milhões. O alvo seria “autoridade indefinida”.
Além da própria soltura, o traficante, que é ligado a duas facções do crime organizado, pretendia barganhar com Cardozo a liberação de outros barões do crime. A escolta para Mayra – que serve também à mãe dela e ex-mulher de Cardozo, Sandra Jardim – foi determinada logo após o Depen receber as primeiras informações sobre o caso. Em agosto do mesmo ano, o órgão confirmou o risco para familiares do ministro e recomendou a manutenção do esquema.
O relatório registra que, em 2007, antes mesmo de Cardozo assumir o cargo, o traficante aventava atentar contra pessoas próximas ao então ministro da Justiça em represália contra sua prisão no regime disciplinar diferenciado – que limita visitas, banhos de sol e contato com o mundo exterior. Naquele ano, a pasta teve como titulares Márcio Thomaz Bastos e o atual governador do RS, Tarso Genro.
Mayra vive em São Paulo e se desloca em carro blindado, seguido sempre por ao menos dois policiais federais. A escolta veio à tona em maio, depois que o veículo em que ela e mãe trafegavam foi abordado por criminosos no Morumbi (zona sul), numa suposta tentativa frustrada de assalto. Na ocasião, a PF confirmou a ação e explicou que o caso seria investigado em sigilo.
A escolta é alvo de denúncia do Sindicato dos Servidores da PF em São Paulo (Sindipolf-SP), segundo a qual familiares de ministros não têm, por lei, direito ao esquema de segurança. Conforme o documento, Mayra é assistida por oito policiais federais de fora de São Paulo, que se revezam na vigilância. Em salários e diárias, o esquema já teria custado R$ 3,3 milhões.
Com base na denúncia do sindicato, a Controladoria-Geral da União (CGU) pediu explicações ao ministro. A Polícia Federal informou que a proteção foi providenciada após alerta do Depen e que seu próprio setor de inteligência confirmou, depois, o risco a familiares de Cardozo. A PF, porém, não deu detalhes do que foi apurado. Cardozo reiterou, por sua assessoria, que a escolta se deve ao risco apurado pelos setores de inteligência.