Brasília – O Comando da Marinha considera "críticos" seus recursos operacionais e o sintoma mais expressivo da situação é revelado pela Força Aeronaval, estacionada na base de São Pedro da Aldeia (RJ). Ali, estão, sem condições de vôo, 21 dos 23 caças A-4M Skyhawk (rebatizados AF-1 no Brasil) adquiridos do Kuwait, em 1997, para equipar o porta-aviões São Paulo.
Os dois únicos caças disponíveis são considerados "aptos com restrições". O problema não é falta de dinheiro: só de royalties do petróleo, garantidos por lei, porém retidos no Ministério da Fazenda, a Marinha tem R$ 3 bilhões.
O tamanho da crise está detalhado em um relatório feito pelo comandante da Força, almirante Júlio Soares de Moura Neto. O documento, enviado à Casa Civil, continua sem resposta.
Dos 23 navios da frota, 11 estão imobilizados e 10 apresentam problemas, restam apenas dois "em perfeito estado".
Dos cinco submarinos, dois estão completamente parados, dois estão funcionando com restrições e apenas um está "em bom estado". No caso dos helicópteros, a situação não é diferente: dos 58 existentes, 27 estão imobilizados e 31 em uso sob restrições. Há um mês, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voou em um deles, na Antártida, entre a estação chilena e a estação brasileira.
Exército e Aeronáutica
A radiografia não é diferente nos outros comandos. No Exército, 78% dos blindados estão sucateados e 84% deles foram fabricados na era pré-informática. Sobre a Aeronáutica, em setembro, o comandante Juniti Saito disse, no Congresso, que só 37% dos aviões tinham condições de voar. Agora, a porcentagem subiu para 80% dos meios da Força Aérea Brasileira.
O plano de reaparelhamento da Marinha prevê a revitalização dos AF-1 pela Embraer. A previsão, no entanto, é de quatro anos para a recuperação. O porta-aviões São Paulo, há três anos em reforma, deve voltar ao mar em 60 dias, caso haja dinheiro no caixa da Marinha.
Quando falou da situação dos equipamentos para os parlamentares, o comandante da Marinha reconheceu que há "um estado crítico de obsolescência material e tecnológica".
Essa avaliação, contida em documento atualizado agora, informa que, em conseqüência do natural esgotamento da vida útil dos equipamentos, a Marinha desativou 22 navios e seis aeronaves nos últimos oito anos. No mesmo período, os recursos só foram suficientes para a reposição de 12 desses meios, os dois mais recentes no final de 2007.
Até 2010 existe a previsão de desativação de mais 17 navios. Caso não haja uma reversão consistente no quadro orçamentário, adverte a Marinha, 87% dos atuais navios serão imobilizados. No quadro das aeronaves, a necessidade é de recuperação, troca e expansão de até 128 unidades.
Moura Neto defende a imediata implementação do programa de reaparelhamento. O empreendimento custará R$ 5,8 bilhões, a serem aplicados de 2008 a 2014, o que o almirante considera "absolutamente factível", desde que a área econômica do governo libere os R$ 3 bilhões de royalties a que a Marinha tem direito.