Governo e oposição preparam-se para um duro confronto nesta semana, com a apresentação do relatório final da CPI dos Bingos. Embora não falem abertamente na hipótese, os governistas avaliam a possibilidade de fazer um documento paralelo, se perceberem que não terão votos suficientes para derrubar a conclusão do relator, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN). Por outro lado, a oposição responde com a ameaça de não levar o relatório a votação e prorrogar os trabalhos.
Há dois pontos inegociáveis que devem emperrar qualquer tentativa de acordo: o relatório pedirá o indiciamento de pessoas próximas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como o presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Paulo Okamotto, e o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci e dirá que teve motivação política o assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel, petista morto em janeiro de 2002. ?Vamos buscar um caminho até o último momento, mas acho que vamos ter que ir para votação e vencerá quem tiver mais voto. Está tudo muito radicalizado?, disse o relator. A versão final será apresentada amanhã.
Pré-candidato ao governo do Rio Grande do Norte, Garibaldi tem pressa em encerrar os trabalhos. Se vingar a hipótese, hoje remota, de prorrogação da CPI, ele será substituído por outro senador, a ser escolhido entre os que não estarão em campanha para se eleger. ?Não podemos falar em relatório paralelo se não sabemos quais são as regras. Haverá voto em separado? Haverá votação de destaques? Não sabemos?, diz a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), integrante da CPI. Outro senador petista, Tião Viana (AC), avisa: ?Seremos contra tudo que fugir do fato determinado.?
O relatório apontará esquemas de desvio de dinheiro de empresas prestadoras de serviço para as prefeituras de Ribeirão Preto e de Santo André, montados para abastecer o caixa 2 do PT. ?É certo que havia esquemas de desvio nas prefeituras e que havia caixa 2. Minha dúvida é sobre as conexões entre os esquemas?, diz Garibaldi.
O relator calcula que será pedido o indiciamento de 65 pessoas, contando as 34 que já foram indiciadas no relatório preliminar, votado em janeiro. A dois dias da apresentação do documento final, o relator diz que ainda não encontrou elementos suficientes para recomendar o indiciamento do ex-ministro e ex-deputado José Dirceu e do chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho. Ambos são acusados por ex-colaboradores do PT de terem comandado o esquema de corrupção nas prefeituras petistas.