Relatório aponta hipóteses para acidente da TAM

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) do Comando da Aeronáutica apresentou hoje seu relatório final sobre o acidente do voo 3054 da TAM, no dia 17 de julho de 2007, que vitimou 199 pessoas em São Paulo. O documento, que foi antecipado pelo Estado no último dia 27, trabalha principalmente com duas hipóteses: a de que houve falha no sistema de controle de potência dos motores e a de que o piloto teria agido fora do que previa o manual.

Embora não tenha apontado os pilotos como responsáveis pelo acidente, o relatório do Cenipa tampouco os isenta e cita dados da Airbus, empresa que projetou a aeronave, que apontam que a chance de uma falha mecânica ocorrer é de uma a cada 400 trilhões de horas de voo. O número é bem superior aos 60 ou 70 milhões de horas que as aeronaves costumam voar em toda a sua vida útil, segundo a companhia.

Segundo o presidente da comissão que investigou o acidente pelo Cenipa, Fernando Silva Alves Camargo, a falta de uma área de escape na pista do Aeroporto de Congonhas não contribuiu para o acidente. Porém, quando questionado por jornalistas, ele admitiu que o cenário da operação poderia ser outro caso o pouso fosse realizado no Aeroporto Internacional Franco Montoro, em Guarulhos, ou no Aeroporto de Viracopos, em Campinas, interior de São Paulo.

“Se fosse um pouso em uma área mais longa e livre lateralmente, é possível que conseguisse parar a aeronave sem colidir em nada”, considerou. Vale lembrar que a aeronave se chocou com um edifício na frente do aeroporto quando os pilotos tentavam fazer o avião decolar novamente.

Para Camargo, uma série de “aspectos conjunturais” deve ter levado ao acidente. “Ansiedade percebida ao longo do áudio do gravador, histórico da pista com problemas, co-piloto ainda sem muita experiência nessa aeronave”, enumerou. “Além disso, o comandante havia se queixado de dor de cabeça. Esses aspectos e mais outros podem ter gerado alguma pressão psicológica, que pode ter afetado o desempenho da tripulação”, continuou.

O presidente das investigações resumiu ter ficado evidente que os pilotos não conseguiram entender o que estava acontecendo com a aeronave depois do pouso. De acordo com ele, o sistema da aeronave não ofereceu informações ou alertas que pudessem ter feito com que eles percebessem o que se passava e que pudessem reverter a situação.

Desde a data do acidente, o Cenipa apresentou mais de 80 recomendações de segurança a diferentes instituições públicas e companhias privadas. O órgão que recebeu mais recomendações foi a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), um total de 33. Também chama atenção o número de considerações feitas à TAM: 23. A Airbus, companhia que projetou a aeronave, recebeu cinco; companhias aéreas de forma geral, duas; a Organização de Aviação Civil Internacional (OACI), uma; a Empresa Brasileira de InfraEstrutura Aeroportuária, 13; e o próprio Cenipa, cinco.

Apesar das recomendações, o Cenipa fez questão de ressaltar que a investigação feita pela instituição não buscou indicar os responsáveis pela tragédia. “Nossa investigação é para prevenir acidentes, não apontar culpados pela ocorrência”, enfatizou o brigadeiro Jorge Kersul Filho. Segundo ele, a atribuição da culpa cabe ao inquérito policial, documento cuja divulgação também foi antecipada pelo Estado no último dia 29. “Não adianta perguntar: não sabemos e não vamos dizer quem foi o culpado.”

A equipe do Cenipa fez estas afirmações durante entrevista à imprensa na tarde de hoje. Antes, eles se reuniram com 78 familiares das vítimas que viajaram à Brasília para ter acesso ao relatório. A maioria dos familiares se mostrou insatisfeita com a conclusão do relatório. “Não estamos descartando, mas não se pode falar que foram só os pilotos”, disse o presidente da Associação dos familiares e amigos das vítimas do voo JJ3054, Dario Scott.

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