Envolvida no olho do ciclone da campanha presidencial, a atriz Regina Duarte voltou à cena dizendo-se ainda um tanto assustada essa semana. “Não foi uma atitude fácil, mas não me arrependo de nada”, afirmou. “Sempre detestei pessoas que falam, mas não vão à luta e não arregaçam as mangas.”
Agência Estado – Você ficou magoada com o episódio?
Regina – Não, acho que está bem equilibrado o debate entre os que ficaram do meu lado e os que estão contra. Isso aqui está servindo para se levantar uma discussão muito importante sobre patrulha, liberdade de expressão. Gente, eu estou com mais medo agora do que quando gravei aquele depoimento. Medo de perder coisas já conquistadas.
AE – E quanto ao Lula?
Regina – Não tenho nada de pessoal contra ele. Mas a reação do partido diante do meu depoimento foi assustadora. Agora ele caminha para a eleição, tá bastante claro que caminha a passos largos para ser eleito. Dele, eu gostaria de uma conduta muito firme em relação a não permitir o patrulhamento, a liberdade tão arduamente conquistada no campo da democracia, do livre pensar. Agora que ele vai passar da posição de crítica, de oposição, para a situação, ele precisa refletir sobre isso. Precisa ser estadista, ter a democracia muito vivenciada, muito forte dentro de si. Sem permitir os abusos e ao mesmo tempo dando mais liberdade.
AE – Você já esteve no mesmo palanque com ele. Como se relacionavam?
Regina – Estivemos juntos nas Diretas Já. Em 1989, quando o Covas ficou de fora, ficou ele e o Collor e eu fiquei com ele. Gosto muito dele, ele é boa gente demais. Só que acho meu candidato mais preparado.
AE – Você subiria ao palanque do Lula por seu projeto?
Regina – Se necessário, é claro que sim. Que ele faça um grande governo e na próxima eleição eu esteja no palanque com ele.
AE – Foi uma decisão sua retirar o depoimento do ar?
Regina – Foi uma decisão conjunta. Era para ir mesmo uma ou duas vezes. Nunca houve intenção de alarmismo ou de se criar terror, um clima de pânico. Eu falei de um sentimento que não era só meu. O medo é um sentimento inerente às mudanças, e era desse medo que eu estava falando.
AE – Você tem bons pressentimentos sobre um futuro governo Lula?
Regina – Eu só espero que os direitos continuem sendo respeitados. Eu não gostaria de ter mais uma confirmação de que tenho razão para ter medo.
AE – Você sumiu por uma semana porque se assustou?
Regina – Eu me assustei. Quis ter uma visão mais abrangente das coisas, de ver as pessoas falarem e perceber a qualidade da solidariedade ou da agressividade que eu ia receber.
AE – O Serra ligou para você depois do episódio?
Regina – Não. Mas ele não precisa ligar, não. A gente tem uma relação antiga e não há necessidade que me ligue.
AE – Entre as acusações que pesaram sobre você, estão a de que recebeu para dar o depoimento e que o texto não era seu.
Regina – Nada disso é verdade. A minha adesão é puramente ideológica, é por um desejo cívico de participar.
