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Foto: Lucimar do Carmo/O Estado

Lula foi vitorioso em 2002 nos estados do Sul. Agora vive um pesadelo na região.

A região sul transformou-se na grande alavanca eleitoral do candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin. No segundo turno de 2002, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu 55% dos votos no Rio Grande do Sul, 60% no Paraná e 64% em Santa Catarina. Em 2006, o sul transformou-se no principal pesadelo da campanha de Lula pela reeleição.

Conforme o Datafolha, o candidato do PSDB vence Lula na região por 37% a 30%. Para o Instituto Sensus, a situação é de empate técnico: 34% a 32% para Lula. As pesquisas para o segundo turno mostram vantagem de Alckmin, de 52% a 34%, no Datafolha. Para o Sensus, 41% a 40%. Essa mudança do eleitorado ajuda a explicar o desempenho do candidato do PSDB em escala nacional, onde ganha mais eleitores a cada nova rodada das pesquisas, mas não chega a ser uma surpresa completa.

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O sul já foi uma fortaleza do PT, que administrou várias cidades importantes na região, mas aos poucos essa força tem diminuído. Em 2002 o partido perdeu o governo do Rio Grande do Sul, que Olívio Dutra havia conquistado em 1998. Em 2004, após quatro mandatos consecutivos, o PT perdeu a prefeitura de Porto Alegre. Alguns fatores explicam esse comportamento. A economia do sul gira em torno do agronegócio, que vive uma crise na qual os desastres naturais – como a pior seca da história do Rio Grande do Sul, em 2005 – se somam aos erros oficiais.

Há outros elementos. A população da região é formada por cidadãos de classe média, que estão fora dos programas sociais, a principal marca do governo Lula. Segundo o Sensus, 28,8% da população do nordeste, onde o presidente lidera as pesquisas com folga, se diz diretamente beneficiada pela ajuda oficial – massa que atinge apenas 7,4% do eleitorado do sul.

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A população da região sul também tem nível de educação formal mais elevado, traço que a torna mais preocupada com as denúncias do mensalão, acreditam os pesquisadores. Isso explica o desempenho da senadora Heloísa Helena (AL), candidata do PSOL à Presidência e principal musa da CPI que investigou as denúncias contra o governo. Ela tem 15% de intenções de voto em Porto Alegre e 17% em Florianópolis, o triplo de sua média nacional.

"A classe média tem mais facilidade para enxergar as falhas do governo", diz o senador Jorge Bornhausen (SC), presidente do PFL, que está coligado ao PSDB. O senador compara a campanha de Alckmin e o plebiscito sobre o desarmamento. Lembra que as primeiras pesquisas sugeriram uma vitória fácil do "sim", até que nas últimas semanas ocorreu uma virada.

"Estamos assistindo a uma situação parecida. No plebiscito, o ?não? começou pelo sul e depois se consolidou nos outros pontos do País", conta.

Neivor Canton, presidente da Organização das Cooperativas de Santa Catarina, acredita que Lula vai perder 2 milhões de votos entre membros das entidades filiadas. "Ele soube vender uma esperança muito grande em 2002, mas a decepção foi maior ainda", afirma.

O líder da bancada petista na Câmara, Henrique Fontana (RS), entretanto, está otimista. "Nós teremos uma eleição disputada. O Lula tem o que apresentar."

O deputado cita investimentos federais que podem ajudar o governo: a duplicação da Rodovia BR-101, a inauguração de uma universidade, a Unipampa, e a retomada do carvão como fonte de energia.

A campanha dará chance aos dois lados para mostrar seus argumentos. Observadores acham que, na hora decisiva, parte do eleitorado de Heloísa Helena pode mudar de lado e votar útil em Lula.

Pode ser. Mas a região vive um dos momentos mais difíceis de sua história – e crises econômicas são fatores que sempre trabalham contra quem está no governo. Se no mundo dos mais pobres a economia teve crescimento de estilo chinês, perto dos 10%, no Rio Grande do Sul a recessão bateu em 4 pontos negativos no ano passado.