A reforma da rede estadual de ensino da gestão Geraldo Alckmin (PSDB) vai fechar até escolas de tempo integral. Entre as 93 unidades que deixarão de funcionar no ano que vem, ao menos três oferecem jornada escolar ampliada – em Guarulhos e Osasco, na Grande São Paulo, e em Birigui, no interior. A medida, para especialistas, vai na contramão do esforço nacional de aumentar as matrículas nesse formato. O governo alega que a reorganização permitirá aumento de vagas de ensino integral em 2016.
A aposentada Fátima Ferreira, de 60 anos, está preocupada com o futuro do neto João Pedro, de 10. Ele é aluno da Escola Estadual Cidade Seródio, em Guarulhos, onde fica das 7 às 16 horas. Uma parte do dia é de aulas básicas, como Matemática, e no contraturno há oficinas, como de informática e esportes.
“Tenho medo que piore a qualidade do ensino em outra escola. Ele começou há poucos meses neste colégio e já melhorou muito, só tira nota dez agora”, afirma Fátima. Para a criança, no 4.º ano do ensino fundamental, a ideia de mudança também não agrada. “A gente ficou triste quando a professora contou. Aqui é onde todos os amigos ficam e fazemos coisas legais”, comenta João Pedro[.
Maria Inez Molinari, dirigente de ensino da Região Guarulhos Norte, diz que os alunos da Cidade Seródio serão transferidos para outra unidade, a Brigadeiro Velloso, onde também terão ensino integral. “Lá eles terão um espaço mais amplo e preparado.” O prédio antigo será entregue ao município.
Como a Escola Brigadeiro Velloso fica a 1,5 quilômetro, parte dos pais se queixa da distância. “Está dentro do limite proposto na reorganização”, justifica Maria Inez. As famílias também dizem que o novo colégio tem problemas de alagamentos. Mas, segundo Maria Inez, foram feitas reformas. Os alunos que já estavam na Brigadeiro Velloso, diz a dirigente, não terão o ensino integral, por enquanto. “Isso ainda será discutido com a comunidade.”
Descontinuidade
Já os alunos da Escola Guilherme Oliveira Gomes, em Osasco, vão para outra unidade do município, sem ensino integral. “Isso interrompe um processo, prejudica a qualidade”, lamenta Glace Motta, professora de Português do colégio. “Temos projetos articulados, interdisciplinares. O aluno perde muito ao sair.”
Outro problema, segundo Glace, é a perda de oferta para o público da periferia. “É ruim para esse jovem ficar ocioso.”O prédio será transformado em um Centro de Educação de Jovens e Adultos.
A Secretaria da Educação do Estado (SEE) diz que em Osasco a “baixa adesão é responsável pela mudança.” Afirma ainda que a transferência dos alunos foi debatida com a comunidade escolar. Acrescentou que a “pasta não pode impor o tempo integral aos estudantes”.
A Escola Doutor Carlos Rosa, em Birigui, é outra de tempo integral a fechar as portas. O técnico de telefonia Igor Nogueira, de 35 anos, reclama. “Meu filho tem 11 anos e precisa ficar na escola o dia inteiro. Não tenho quem fique com ele. Isso bagunça nossa rotina”, afirma.
A secretaria diz que oferecerá aos alunos da Carlos Rosa atendimento na Escola Vicente Felício Primo, na mesma cidade. O colégio também tem ensino integral. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.