Brasília – Decidido a fazer uma nova reforma em seu Ministério, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta um dilema. Como na primeira mudança ministerial, efetivada em janeiro deste ano, ele sonha com um governo de excelência que favoreça sua reeleição. Porém, com a necessidade de fazer um governo de coalizão, é pressionado a abrir espaço a todos os partidos aliados, deixando o critério da excelência em segundo plano.
Lula decidiu que vai ampliar o poder do PMDB e acomodar o PP na Esplanada dos Ministérios, reduzindo o espaço do PT. Segundo um ministro, Lula pretende concluir pelo menos uma etapa importante da reforma até o fim desta semana. Praticamente enterrada a possibilidade de reeleição dos presidentes da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), e do Senado, José Sarney (PMDB-AM), Lula estuda um jeito de compensar os dois, fiéis aliados do Planalto no Congresso. O presidente disse a mais de um interlocutor que vai fazer de tudo para ter Sarney a seu lado. O agrado pode vir com um ministério para a filha do presidente do Senado, a senadora Roseana Sarney (PFL-MA), que mudaria de partido.
João Paulo deve ganhar um ministério, que pode ser o do Trabalho, ocupado pelo também petista Ricardo Berzoini. Mas João Paulo é presidente da Câmara até fevereiro. Ex-sindicalista, poderia fazer a ponte entre o governo e os sindicatos, cujas relações estão abaladas.
Berzoini, por sua vez, está sendo lembrado como uma alternativa para a presidência do Banco do Brasil ou para o Ministério do Planejamento. Segundo integrantes do Planalto, o PMDB pode ficar com os Ministérios das Cidades ou da Integração Nacional. Apesar de alguns darem como certa a saída de Olívio Dutra da pasta das Cidades, assessores de Lula ainda têm dúvidas de que exonere o ministro, com quem tem forte amizade.
No jantar de sexta-feira à noite com os líderes do PMDB, Lula disse tudo o que o partido queria ouvir para se manter na base de apoio do governo no Congresso. No jantar com 16 dos 23 senadores peemedebistas, do qual participaram também os dois ministros do partido – Eunício Oliveira, das Comunicações e o anfitrião Amir Lando, da Previdência Social – Lula surpreendeu os políticos com a defesa objetiva de um governo de coalizão e a oferta de mais um ministério para a legenda.
"Cada partido deve ocupar espaço correspondente a seu tamanho. Dois ministérios para o PMDB são pouco", disse Lula, segundo relato do senador Ney Suassuna (PB), que teve o cuidado de anotar no verso de alguns de seus cartões de visita as frases mais "preciosas" do presidente.
PT deve apoiar reeleição de Requião
Brasília – Além de enterrar de vez a idéia da reeleição para os postos de comando do Congresso, abrindo espaço à candidatura do líder Renan Calheiros (PMDB-AL) à presidência do Senado, Lula propôs a tão reclamada "parceria estratégica" entre petistas e peemedebistas nos estados, com o PT apoiando "candidatos fortes" do PMDB, como os governadores Roberto Requião (PR) e Luiz Henrique da Silveira (SC), que disputarão o segundo mandato. Não haveria oportunidade de uma aliança, de acordo com Lula, em Brasília e no Rio Grande do Sul, porque o PT tem planos de concorrer.
Quando o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) disse ao presidente que gostaria, sim, de apoiá-lo e que o diálogo com ele era fácil, mas que a relação com o PT é sempre muito difícil, Lula não hesitou. "Eu sei que é difícil, porque comigo é difícil também", afirmou, de acordo com as notas de Suassuna. E foi além, lembrando o caso da prefeita petista de Fortaleza, Luizianne Lins, eleita à revelia do PT nacional que fechara apoio ao candidato do PC do B, deputado Inácio Arruda. "Já disse ao José Genoíno (presidente do PT) que não podemos deixar isto acontecer. Não podemos permitir que uma minoria estrague uma coalizão."
Tudo isso foi proposto com a garantia de liberdade ao PMDB para lançar candidato à presidência contra o PT em 2006. "Não tenho interesse por trás dessa parceria", disse o presidente, em defesa da coalizão em nome da governabilidade. Segundo os participantes da conversa, porém, ele fez uma ressalva: a de que o PMDB deve, sim, ter um candidato ao Palácio do Planalto, mas se tiver um nome nacional com força política real para vencer a disputa. Nada de entrar em aventuras, recomendação que vale também para o Planalto.
"Não entrarei nunca numa aventura de deixar de fazer o necessário porque é impopular", disse Lula.