A abertura da licitação internacional para a reconstrução da base brasileira na Antártica acirra uma disputa comercial entre empresas da Alemanha, China, Coreia do Sul e de um consórcio ES-Kout (formado por companhias do Chile, Espanha, Itália e Principado de Mônaco).
O que está em jogo é a estratégia de mostrar ao mercado global capacidade técnica em obras complexas, como avalia a Marinha do Brasil – responsável pelo certame, cujo valor-teto fixado para a instalar a estrutura no continente gelado, até março de 2016, é de US$ 110,5 milhões.
A disputa se acirrou depois que as gigantes chinesas da construção Boasteel Group e China Road and Bridge Corporation (CRBC) disseram que participariam da licitação. “Foi aparecer os chineses que os outros ficaram interessados”, afirma o comandante Geraldo Joaçaba, responsável pela obra.
A presença dos chineses levou a sul-coreana Hyundai a entrar no páreo de última hora. A empresa só manifestou interesse no final de abril, quando o Comissão Interministerial para os Recursos do Mar realizou reunião em Brasília para discutir o aval ao projeto pelo comitê do tratado antártico, que aprovou o estudo de impacto ambiental do novo projeto.
O interesse da Hyundai, que entregou a plataforma da Coreia do Sul na Antártica em março deste ano, foi tamanho que a empresa sugeriu transportar os blocos da futura estação brasileira dos navios ancorados na costa do continente de helicóptero. A Boasteel e a China Road se propuseram a fazer o traslado por terra.
Na avaliação da Marinha o que está em jogo não é o valor da obra em si, já que o preço previsto para a licitação é pouco maior que os cerca de US$ 102 milhões pagos pela Coreia do Sul à Hyundai, mas a disposição de se consolidar como construtoras de obras complexas em áreas inóspitas. “As empresas internacionais que estão mostrando interesse têm grande expertise em obras na Antártica”, diz o Contra-Almirante Marcos Silva Rodrigues, secretário da comissão interministerial.
No momento em que as empresas chinesas começam a sair do seu país para brigar por projetos em outras fronteiras, a plataforma brasileira aparece como uma possibilidade de mostrar essa capacidade. O interesse chinês na Antártica também foi o que despertou a disposição da alemã Kaefer entrar na disputa – a companhia construiu a estação da Alemanha.
Aumento de 60%.
Na contramão do movimento das estrangeiras, as construtoras brasileiras estão distante da Antártica, apesar da posição geográfica favorecê-las – a estimava é de que navios com equipamentos a partir da Ásia demorem até 45 para chegar à Antártica, contra 30 dias a partir da Alemanha e 10 dias a partir do Rio de Janeiro, base da Marinha.
O governo já tentou uma licitação apenas com empresas nacionais, no final de 2012, estimada em R$ 147,4 milhões, mas não houve interesse. Agora, com a abertura da licitação à participação de empresas asiáticas e europeias, a expectativa é de que construtoras brasileiras tente participar como consorciadas das estrangeiras.
Além do valor final da obra, que em relação aos R$ 147,4 milhões de 2012 cresceu 60% (para cerca de R$ 245,3 milhões), o fim das projetos relacionados à Copa do Mundo é visto como um componente a mais de atração. “A nossa esperança é de que possa ter uma empresa brasileira”, diz Rodrigues.