Altamira – Em depoimento à comissão de senadores, ontem, em Altamira, os pistoleiros Rayfran das Neves Sales e Clodoaldo Batista, que participaram diretamente do assassinato da missionária Dorothy Stang, citaram o nome do prefeito de Anapu, Luiz dos Reis Carvalho (PTB), como um dos interessados na morte da freira. Os pistoleiros prestaram depoimento vestidos com coletes à prova de balas.
Os dois contaram que, depois do crime, reuniram-se com o fazendeiro Vitalmiro Moura, o Bida, que seria o mandante do assassinato. Eles teriam se encontrado numa mata que fica dentro da propriedade de Vitalmiro e este teria lhes assegurado um avião para a fuga e a contratação de um advogado, caso fossem presos. Vitalmiro teria pedido, em troca, que eles não envolvessem seu nome no crime, nem o de Amair Feijoli da Cunha, o Tato, que seria o intermediário.
Vitalmiro teria dito ainda que o dinheiro para custear as despesas com honorários do advogado seria rateado entre um grupo de interessados na morte da misisonária. Segundo os assassinos, Bida teria citado o nome do prefeito de Anapu como um dos que dariam dinheiro para a contratação do advogado. Ao sair da delegacia da Polícia Civil de Altamira, a senadora Ana Júlia Carepa (PT-PA), presidente da comissão, disse que, durante a campanha eleitoral, Luiz Reis teria defendido a saída da irmã Dorothy da cidade.
Ana Júlia Carepa estava acompanhada do vice-presidente da comissão, o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), do relator, senador Demóstenes Torres (PSDB-GO), e do senador Eduardo Suplicy (PT-SP).
A senadora Ana Júlia acredita que o plano de combate à violência no campo, que o governo Lula pretende implantar nas próximas semanas, só vai ser bem sucedido no interior do Pará se forem melhor estruturados órgãos como o Ibama e a Justiça Federal, além de serem atendidos requisitos básicos como a qualidade das estradas locais para o combate ao crime e o aperfeiçoamento da própria economia. O plano de combate está sendo preparado pelo ouvidor agrário nacional, Gercino José da Silva, e prevê ações como o desarmamento na região de Anapu.
Entre as propostas está maior rapidez nos processos judiciários sobre conflitos no campo, garantia de vida para líderes de trabalhadores rurais e defensores de direitos humanos, além da meta de aprovação da proposta de emenda constitucional que expropria terras de quem explora o trabalho escravo. ?É possível concretizar essas medidas. O governo está decidido, mas é necessário também que os órgãos federais na região, como o Ibama e a Justiça Federal, sejam estruturados para que as ações se tornem efetivas. Tem de fazer concursos locais porque o que acontece é que os procuradores aprovados nos concursos federais dificilmente aceitam ir para regiões como o interior do Pará?, afirmou a senadora petista.
Inquéritos acusam quatro por crime hediondo
Altamira – Os inquéritos da Polícia Federal e da Polícia Civil sobre a morte da missionária americana Dorothy Stang acusam quatro suspeitos de crime hediondo. Os inquéritos classificam o assassinato de homicídio qualificado, com vários agravantes. A pena para este delito varia de 12 a 30 anos de cadeia. Por se tratar de um crime hediondo, os quatro terão de cumprir a condenação integralmente em regime fechado, se considerados culpados. Os inquéritos foram enviados ontem ao juiz titular da Vara de Pacajá (PA), Lucas do Carmo de Jesus. O inquérito da Polícia Civil denuncia os fazendeiros Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, e Amair Feijoli da Cunha, o Tato, como mandantes do crime. Rayfran das Neves Sales, autor dos seis disparos, e Clodoaldo Carlos Batista, que também participou do crime, foram denunciados como executores. O juiz vai enviar os inquéritos ao Ministério Público Estadual, a quem cabe oferecer a denúncia dos crimes para que a Justiça instaure a ação penal. Como há três suspeitos já presos, depois da instauração, o prazo para eles irem a julgamento é de 81 dias. No seu inquérito, a Polícia Federal incluiu, além dos quatro, outros dois envolvidos. Cleoni Santos e Magnaldo Santos, que trabalhavam para Bida como vaqueiros, são acusados de terem ajudado os assassinos quando eles fugiam após terem matado a missionária americana. Rayfran, Clodoaldo e Tato esconderam-se durante dois dias na fazenda de Bida e os dois funcionários levaram comida e agasalhos para os três. Mas os dois irão responder pela acusação de favorecimento pessoal, crime que prevê pena pequena, de seis meses ou mesmo prestação de serviço comunitário. Na manhã de domingo foi feita a acareação entre os quatro presos acusados de envolvimento no assassinato: Cleoni Santos, Magnaldo Santos, Rayfran das Neves Sales e Clodoaldo Carlos.
Carvalho nega coleta para pagar defesa de Rayfran
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| Luiz dos Reis Carvalho (PTB) |
Anapu – O prefeito de Anapu, Luiz dos Reis Carvalho (PTB), negou, perante a Comissão Externa do Senado de Acompanhamento das Investigações do Assassinato de Dorothy Stang que tenha sido chamado a ajudar na coleta de dinheiro para custear os advogados de Rayfran das Neves Sales e Clodoaldo Carlos Batista. Ambos estão detidos em Altamira sob acusação de terem matado a missionária.
Os quatro senadores ouviram dos dois homens em Altamira que o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, suspeito de ser o mandante do crime, teria dito em sua fazenda, antes da fuga, que, para livrar os pistoleiros, caso fossem pegos, ?um advogado de R$ 10 mil não ia resolver? e precisavam de um ?de R$ 50 mil a R$ 100 mil?. Ele teria acrescentado que o dinheiro seria recolhido entre várias pessoas e que o prefeito teria papel nessa coleta.
?Se o Bida fez esse comentário, foi muito infeliz, ou esses assassinos estão delirando?, reagiu o prefeito. ?Fiquei indignado porque não conheço os assassinos. Conheço o Bida, mas não tenho nenhum relacionamento com ele.?
A senadora Ana Júlia Carepa (PT-PA) quis saber se Bida havia ajudado na campanha de Reis, que derrotou o candidato petista Francisco de Assis dos Santos Souza, o Chiquinho do PT. ?Pelo contrário?, respondeu Reis. ?Foram os humildes que apoiaram minha campanha. Os que se dizem fazendeiros apoiaram o candidato do PT.?
Reis também negou que tivesse declarado, em comícios, que seria melhor se a irmã Dorothy fosse embora da cidade. De acordo com Chiquinho, o prefeito ajudava a organizar, para dia 17, uma manifestação de repúdio à freira e aos seus planos de desenvolvimento sustentável, na qual seria interditada a Transamazônica, informação que Reis também nega.