Preocupados com as dissidências na base de apoio ao Palácio do Planalto, os líderes dos partidos aliados trabalham com a hipótese de esvaziar a sessão de votação que vai escolher o novo presidente da Câmara, daqui a uma semana. A estratégia é tentar retirar do plenário os deputados da base, mas que não votam no candidato oficial do PT à presidência da Câmara, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP). Um dos coordenadores da campanha do petista espera que o quórum, no dia da eleição, fique abaixo dos 500 deputados (ao todo, são 513 deputados).
Brasília – "Estão trabalhando duro para eleger o Greenhalgh. Não me surpreenderei se a tática eleitoral for tirar os deputados que não são fiéis e aqueles sobre os quais há dúvidas quanto ao voto", disse o líder do PFL e candidato à presidência da Câmara, José Carlos Aleluia (BA). Os aliados estão empenhados em eleger o candidato oficial do PT em primeiro turno. Temem que, no segundo turno, as chances de Greenhalgh fiquem menores, uma vez que os deputados que não tiveram seus pleitos atendidos pelo governo poderão se vingar do Planalto.
Além disso, a base está confusa porque, na prática, há dois candidatos do PT: Greenhalgh, que é o oficial, e o deputado Virgílio Guimarães (MG), que se lançou na disputa pela presidência da Câmara à revelia do PT. "Esse é um problema que o PT não resolveu até hoje", disse o líder do PSDB, Custódio Matos (MG).
Segundo ele, a tendência da bancada tucana é apoiar o candidato oficial do PT. "Vamos nos reunir no dia 14, mas a nossa posição é respeitar o preceito da proporcionalidade e o PT, como maior partido da Câmara, indica o candidato à presidência da Casa", argumentou o tucano.
Traições
Mesmo com o apoio de parte da oposição, os líderes aliados estão cautelosos em relação à eleição de Greenhalgh. Eles apostam que a votação para eleger o sucessor do atual presidente João Paulo Cunha (PT-SP) será o momento propício para as traições dos parlamentares. Como a votação é secreta, os líderes não terão como controlar os votos de seus deputados. Para ser eleito no primeiro turno, Greenhalgh precisa da maioria dos presentes mais um. Ou seja: se forem computados, por exemplo, 500 votos válidos, o petista é eleito com 251 votos.
Levantamento feito pela mesa diretora da Câmara aponta que, desde 1971 até hoje, todos os candidatos oficiais que disputaram a presidência da Casa foram eleitos em primeiro turno. A eleição mais apertada, na última década, foi a do atual presidente do PMDB, Michel Temer (SP), que obteve 257 votos na eleição para seu primeiro mandato como presidente da Câmara (entre 1997/1999).
Nos últimos dez anos, o presidente João Paulo foi o candidato eleito com a maior margem de votos: 434 do total de 484 votos válidos. Seu antecessor, hoje governador mineiro, Aécio Neves (PSDB), conquistou 283 do total de 507 votos válidos. Já Michel Temer, em seu segundo mandato, obteve 422 do total de 488 votos válidos, enquanto Luís Eduardo Magalhães teve 384 do total de 501 votos válidos.
Mercadante: Virgílio tem que sair
Recife – O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), afirmou ontem, em Recife, acreditar que o candidato a presidente da Câmara dos Deputados Virgílio Guimarães (PT-MG) deve retirar a candidatura avulsa até dia 14, data da eleição. Para Mercadante, a escolha do candidato Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) foi resultado de um processo legítimo e democrático dentro da bancada, com adesão quase total dos parlamentares, e isso deverá prevalecer. "Na segunda-feira (14), acredito que teremos apenas um candidato, o oficial (Greenhalgh)", afirmou Mercadante, na capital pernambucana, onde passa o Carnaval.
Se a expectativa dele não se confirmar e Guimarães se mantiver no páreo, o ministro da Saúde, Humberto Costa, defende a punição: "A atitude dele é arriscada e consciente", afirmou, argumentando que Guimarães "se isolou muito" no partido ao não aceitar a escolha de Greenhalgh e ao procurar apoio de outras legendas. "O PT é muito rigoroso com quem não cumpre suas decisões", disse Costa. Mercadante, Costa e pelo menos seis deputados federais petistas – entre eles Paulo Rocha (PA), professor Luizinho (SP), líder do PT, e Dr. Rosinha (PR) – estão na cidade, prestigiando o Carnaval do prefeito João Paulo (PT).
Segundo turno será no mesmo dia
Brasília – No próximo dia 14, em votação secreta, 513 deputados vão escolher em cédulas individuais de papel os novos membros da mesa diretora da Câmara. A sessão terá início às 16 horas, sem horário para término. A presença dos parlamentares na votação é obrigatória, e quem não comparecer tem desconto na folha de parte do seu salário.
Para ser eleito, o candidato precisará obter a maioria absoluta (metade mais um) dos votos válidos. Só não são computados os votos nulos. Se nenhum candidato obtiver a maioria, a disputa será feita em dois turnos entre os dois candidatos mais votados. Os deputados votam em sete cédulas individuais, cada uma com os candidatos aos cargos da mesa diretora.
Encerrada a votação, tem início a apuração dos votos para a presidência da Câmara. Se 480 votos forem considerados válidos, por exemplo, o novo presidente será eleito em primeiro turno se tiver pelo menos 241 votos. "Só será eleito em primeiro turno o candidato que obtiver maioria absoluta dos votos válidos, incluindo os brancos. E não necessariamente a maioria absoluta da Casa", explica o secretário-geral da mesa da Câmara, Mozart Vianna.
A apuração dos demais cargos da mesa diretora só será realizada após a eleição do presidente. Se for necessário segundo turno, ele ocorrerá imediatamente após a proclamação do resultado entre os dois mais votados, antes do início da apuração dos outros cargos da mesa.
Eleito o novo presidente, ele assume os trabalhos e passa a comandar a apuração dos votos para os demais membros da mesa. A mesma regra de dois turnos será seguida para os demais cargos. No entanto, não é obrigatória a realização de segundo turno na mesma sessão, e nem no mesmo dia. Segundo o secretário-geral da mesa, as regras para as eleições são normas estabelecidas pelo Regimento Interno da Casa.