Antes mesmo do auge da temporada seca no País, o foco de incêndios em todo o território desde o começo do ano até terça-feira, 26, foi 57% maior que no mesmo período do ano passado. Com 40.765 focos detectados até dia 26, é a maior taxa desde o início da série histórica em 1998, segundo levantamento divulgado nesta quarta, 27, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O dado foi anunciado em tom de alerta. “Ainda estamos no começo da temporada de queimadas. O que aconteceu até agora talvez 15% ou 20% de tudo o que ainda vai acontecer”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo o pesquisador Alberto Setzer, coordenador do monitoramento de queimadas do Inpe.
Há cerca de um mês, a Nasa já tinha divulgado uma previsão de que, por causa de condições climáticas adversas, a Amazônia poderá ter neste ano a pior temporada de queimadas do registro histórico. A análise é que se trata de um reflexo do intenso El Niño que atinge o planeta desde o ano passado, levando a um ressecamento do solo na região, que deve chegar ao auge agora com o início da temporada seca.
Os números do Inpe confirmam que, de fato, alguns Estados da Amazônia já tiveram nos primeiros seis meses do ano mais focos de incêndios que os registrados desde 1998. O Mato Grosso, por exemplo, teve recorde de focos nos meses de fevereiro, março e abril, mas teve alguma redução em maio e junho. O Pará bateu recordes em fevereiro, abril, maio e junho.
“As queimadas não são um fenômeno natural, elas não ocorreriam naturalmente, ao menos não nessa quantidade, talvez 0,5% disso, nem isso. Por trás tem sempre a ação humana, de propóstio ou sem querer. Aí que está a chave do problema. Se a população seguir a legislação e as autoridades controlarem, impedirem, não vai acontecer nada. Mas as condições climáticas na Amazônia de fato criam condições favoráveis para o fogo.”
O problema, no entanto, vai além do El Niño, porque está ocorre no País inteiro e não são todas as regiões que estão sendo afetadas pelo fenômeno, pondera o pesquisador.
“Em São Paulo até tivemos muito chuva e o Estado teve aumento de 145% até agora em relação ao ano passado. O Rio Grande do Sul registrou aumento de 72%, e a região foi bastante castigada pelas chuvas. Em Brasília aumentou em dez vezes o número de queimadas e não está mais seco lá do que em outros anos”, enumera. “Por algum motivo, as pessoas estão botando muito mais fogo neste ano”, diz.
Ele aponta que unidades de conservação também estão sendo afetadas. Só nesta quarta havia 172 áreas protegidas com algum problema de fogo, ou no interior da unidade ou na borda. “O Parque Nacional do Araguaia está queimando há semanas, com vários incêndios gigantes. O Parque Indígena do Xingu está com focos há vários dias”, afirma.