Os pilotos do voo 447 não tinham recebido treinamento específico para comando de um Airbus A330-300 em modo manual em grandes altitudes. “O acidente poderia ter sido evitado se as boas decisões tivessem sido tomadas”, disse o diretor do escritório francês de investigação (BEA), Jean-Paul Troadec. A análise do acidente também fez o escritório francês listar dez recomendações de segurança de voo. O treinamento teria sido crucial para o controle do avião nas circunstâncias em que o voo Rio-Paris se encontrava: à noite, sob tempestade, turbulência moderada e perda de informações de navegação.
Em nota oficial, a Air France rebateu as constatações do relatório. “Nada permite, neste estágio, colocar em dúvida as competências técnicas da tripulação”, afirmou a empresa. “É importante compreender se o ambiente técnico, os sistemas, os alarmes complicaram a compreensão da situação por parte da tripulação.”
Profissionais como Gérard Feldzer, ex-piloto e consultor, afirma que “se fosse durante o dia, o acidente não teria acontecido, porque os pilotos teriam a linha do horizonte para se orientar”. Outros especialistas querem ainda mais horas de voo. “Antigamente, os comandantes tinham mais de 20 mil horas e os copilotos, mais de 15 mil”, afirma o engenheiro aeronáutico brasileiro Jorge Leal Medeiros.
Uma das medidas de segurança propostas pelo BEA é a adoção de câmeras instaladas nas cabines para registrar imagens do painel de bordo – seriam as “caixas-pretas de vídeo”. “Seria muito bom para tirar dúvidas em situação de acidente”, diz o diretor de operações do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Carlos Camacho.
Outra recomendação é “rever o conteúdo dos programas de treinamento e de controle e impor exercícios específicos e regulares dedicados à pilotagem manual”, diz o relatório. O escritório francês ainda sugere a elaboração de novos critérios de divisão de tarefas entre os copilotos para os momentos de ausência do comandante. Entre outras recomendações técnicas, estão também o aumento do volume de informações gravadas pelas caixas-pretas convencionais – de vozes da cabine e dos parâmetros de voo. As recomendações ainda deverão ser avaliadas pelas autoridades de aviação civil europeias.