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Quatro em dez professores já ajudaram alunos com problemas na internet

Adolescentes estão na internet o tempo inteiro, mas em um colégio de São Paulo escolheram um dia só para debater o mundo virtual. Formado no Dante Alighieri, na região central de São Paulo, um comitê de alunos do ensino médio e uma professora se reúnem semanalmente para discutir temas complicados da rede, como privacidade de dados e cyberbullying. “Eles trazem o olhar deles e me atualizam sobre o que está acontecendo”, diz a professora Valdenice Minatel, diretora de tecnologia da escola.

A atividade no Dante não é o único exemplo. Dados da pesquisa TIC Educação, divulgada ontem pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), mostram a preocupação de escolas e professores com o tema. O estudo aponta que 40% dos professores brasileiros já ajudaram alunos a enfrentar situações problemáticas ocorridas na internet como bullying, discriminação, assédio e disseminação de imagens sem consentimento. E, segundo a pesquisa, a maioria dos professores (56%) já promoveu debates com os alunos sobre como usar a internet de forma segura; e 66% estimularam os alunos a debater os problemas na internet.

Segundo Daniela Costa, coordenadora da pesquisa, as escolas particulares desenvolvem mais atividades para lidar com essas situações, mas, tanto na rede particular quanto na pública, as ações são mais ligadas a atuar diante de problemas do que em iniciativas preventivas.

“Perguntamos se, no último ano, a escola tinha realizado algum debate e os porcentuais foram menores do que se a escola tinha realizado esse tipo de atividade em algum momento. Pode ser que essas ações ainda sejam pontuais, não estejam integradas e ocorram quando algo acontece na escola”, afirma ela.

No caso do Dante, o comitê com alunos ajuda o próprio colégio a pensar sobre o tema. “O Parlamento francês foi favorável a tirar o celular das escolas (em julho deste ano) e aqui nós debatemos sobre isso”, exemplifica Eduardo Candeias, de 15 anos. “Tentamos conscientizar as pessoas de que o celular pode ser, sim, uma ferramenta com bom uso.” Outra discussão é sobre as pegadas deixadas na rede. “Falamos sobre rastro digital. Eles estão construindo a própria biografia agora. E o que se faz hoje nunca será apagado da internet”, diz a professora Valdenice.

No Colégio Bandeirantes, na zona sul, as informações sobre ciberbullying e demais problemas do ambiente virtual são discutidos dentro da disciplina Convivência em Processo de Grupo (CPG) e os profissionais da escola são capacitados para acolher alunos que viverem esse tipo de situação.

“A gente tem um trabalho preventivo e de intervenção. Na disciplina, falamos sobre valores e ajudamos o aluno a reconhecer caso isso aconteça com um colega”, diz Beatriz Kohlbach, professora e integrante do CPG. Beatriz afirma que a proposta também inclui não punir a vítima. “Tentamos trazer respeito, valores e o lado humano. Não podemos culpar a vítima. De maneira nenhuma, a gente deixa a situação acontecer.”

Em sala

A conectividade dos estudantes também tem alterado o comportamento em sala de aula. De acordo com a pesquisa, 29% dos professores já receberam trabalhos ou lições pela internet, 42% tiraram dúvidas dos alunos online e quase metade (48%) colocou o conteúdo das disciplinas na internet.

A variedade de plataformas de acesso, no entanto, ainda é um desafio. O levantamento mostrou que um quinto dos estudantes tem acesso à internet apenas por meio de celulares, o que pode ser prejudicial para a formação. “Justamente nas classes mais pobres ocorre esse uso. As atividades digitais mais complexas não podem ser realizadas só pelo celular. Existe a necessidade de oferecer o acesso a múltiplos dispositivos, que permitem a realização de atividades mais complexas”, explica Alexandre Barbosa, gerente do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (CETIC.br). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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