A eleição das Mesas do Congresso levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus articuladores políticos a apostar num jogo de alto risco.

Sem maioria no Congresso, o PT rasgou o acordo que fizera com a atual direção do PMDB, passou a negociar com todos os partidos e ainda se dá ao luxo de interferir na escolha do candidato peemedebista à presidência do Senado. Os dirigentes do PT, com o aval de Lula, atuam nos bastidores para eleger o senador José Sarney (AP) e apostam numa virada no comando do PMDB.

A eleição de Sarney seria o primeiro passo para enfraquecer a atual direção, que era ligada ao governo passado. Com a derrota do senador Renan Calheiros (AL) e a degola da turma do presidente Michel Temer (SP), o governo crê que poderá atrair todo o PMDB para a base, assegurando maioria na Câmara e no Senado.

Convocação

Os diretórios do PMDB que apoiaram Lula na eleição convocaram para 16 de fevereiro uma convenção extraordinária para tentar derrubar Temer. – Temos imenso respeito pelo apoio que Sarney deu a Lula num momento em que a eleição não estava decidida. Não esqueceremos essa atitude, não só dele, como de 12 diretórios que apoiaram Lula. Esses parceiros serão tratados com consideração -disse o senador eleito Aloizio Mercadante (PT-SP).

Renan ainda não é carta fora do baralho. Trabalha dia e noite e, como Sarney, vai percorrer o país em busca de votos. Consciente do desgaste que a atual direção tem na bancada após a derrota do tucano José Serra, ele se apresenta como candidato de renovação. Lembra que é jovem (tem 47 anos) e carrega um passado de esquerda – foi do PCdoB.

Também usa em seu favor a derrota de Fernando Collor em Alagoas, mas é do estado que vem a lembrança de que Renan foi líder do ex-presidente. – Ele falou dos sinais claros que o PT dá em apoio ao Sarney. Senti que ele estava assustado e se sentindo derrotado – contou um peemedebista. Mas os aliados de Renan ainda contam com uma reviravolta: não acreditam que Sarney tenha votos suficientes para garantir sua indicação pela bancada.

Jarbas promete ajuda

Recife

(AG) – Primeiro governador do PMDB a dizer que o partido faria oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva, Jarbas Vasconcelos iniciou um processo de aproximação com o presidente. Sexta-feira à noite, depois da visita de Lula e sua comitiva de 29 ministros e secretários à favela Brasília Teimosa, em Recife, Jarbas visitou o presidente no hotel e, num jantar que durou mais de três horas, prometeu lutar junto à bancada de Pernambuco e à do PMDB para apoiar as reformas a serem propostas pelo presidente, entre elas a da Previdência e a tributária. Para o governador de Pernambuco, o PMDB deve aprovar toda a pauta de reformas de Lula.

Ministros que acompanham o presidente na caravana da fome também participaram do encontro. O ministro da Fazenda, Antônio Palocci, classificou a aproximação de Jarbas com o presidente como um “reforço fantástico”. Na saída do jantar, em entrevista, Jarbas contou do apoio dado a Lula:

– Acho que o PMDB foi remetido para a oposição nas últimas eleições, mas isso não quer dizer que o nosso partido não apóie as reformas propostas por Lula, como a da Previdência e a tributária. Essa é uma obrigação de todos e não só dos partidos. O PMDB não fugirá a essa regra – disse Jarbas.

O governador justificou o apoio citando o benefício que as propostas trarão para todo o país, caso sejam aprovadas: – O que é mais importante para o Brasil, hoje, são as reformas. E elas têm que ter o apoio decisivo do PMDB. Segundo Jarbas, na conversa com Lula, o presidente enfatizou a necessidade de ter o apoio do PMDB para conseguir a aprovação das reformas: ? Minha posição aí já está explícita e clara. No momento em que chegar ao Congresso o projeto de reformas, tornarei ainda mais clara minha posição a favor -disse Jarbas ao deixar o Hotel Atlante Plaza, onde toda a comitiva presidencial ficou hospedada até a manhã de anteontem.

Disputa deve fragilizar partido

Brasília

(AG) – A única certeza a respeito do atual processo eleitoral no Senado é a de que o PMDB sairá dela ainda mais fragmentado. Hoje, a atual direção já não controla mais 70% do partido, como acontecia no governo Fernando Henrique. A aposta dos aliados de José Sarney (AP), com o incentivo do PT, é a de que a proximidade com o governo será atrativo mais que suficiente para reagrupar o partido.

A força da caneta presidencial e a perspectiva de poder sempre foram instrumentos políticos eficientes, acreditam. O senador eleito Hélio Costa (MG) está trabalhando para garantir uma solução que evite o racha do partido: -Temos que encontrar uma fórmula que não passe pela disputa. O partido só está perdendo com essa divisão. O candidato que sentir que não tem votos suficientes deve abrir mão para não fragmentar ainda mais o partido.

Dirceu admite dificuldades

Recife

(AE) – Ao sair do hotel onde estava hospedada a comitiva presidencial no Recife, o ministro da Casa Civil, José Dirceu (PT), reconheceu as dificuldades para manter o acordo entre o PT e o PMDB sobre a disputa para a presidência do Senado e da Câmara. Ele negou que a cúpula petista esteja negociando de forma individual com alguns integrantes do PMDB, acusação feita pelo governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos (PMDB).

“Não tem essa história de ficar negociando pelas beiradas. Tanto eu quanto o presidente nacional do PT, José Genoino, temos conversado diretamente com a presidência de todos os partidos. Esse tipo de acusação não tem fundamento”, afirmou o ministro petista.

A crise entre os partidos foi reforçada anteontem, após o presidente do PMDB, o deputado Michel Temer (PMDB-SP), acusar a cúpula petista de “estar preparando o caminho para o rompimento do acordo”.

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