Brasília (AE) – Campeão geral de votos no primeiro turno das eleições municipais, o PT amargou desastres regionais em sete estados: Alagoas, Amazonas, Piauí, Maranhão, Paraíba, Rio Grande do Norte e Roraima.
Mesmo elegendo alguns prefeitos e vereadores nesses locais, o PT, na soma de votos, teve desempenho muito fraco e passar a ter a tarefa de repensar a estrutura partidária nesses estados.
Em Alagoas, por exemplo, o PT não conseguiu suportar a perda política provocada pela desfiliação da senadora Heloísa Helena, principal nome do partido no Estado. O PT ficou apenas em décimo lugar, atrás até do nanico PMN em número de votos. Em todo o Estado, elegeu apenas dois prefeitos e conseguiu 28 mil votos. Líder na soma geral de Alagoas, o PMDB teve quase dez vezes mais votos do que o PT, com 268 mil.
No Amazonas, esse desempenho foi ainda pior, com o PT terminando em 11.º, com 24 mil votos. Também terminou muito longe do melhor partido no Estado, o PFL, que obteve 386 mil votos. No Maranhão, o partido terminou em nono, com 132 mil votos. Na Paraíba, ficou em oitavo lugar, com 75 mil votos. No Rio Grande do Norte, acabou em sétimo, com 73 mil votos. Em Roraima, menor colégio eleitoral entre os estados, ficou em oitavo lugar, com apenas 4,8 mil votos.
No Piauí, os petistas tiveram um resultado mais preocupante. Mesmo tendo o controle do governo local, com Wellington Dias, o partido não passou da sétima colocação na soma total de votos. Ao todo, os piauienses deram apenas 92 mil votos aos candidatos do PT. Bem longe do PSDB, que foi o partido mais votado, com 325 mil votos.
O PT conquistou, pelo menos, sete prefeituras no interior. Mas não há muitos motivos para se comemorar esse resultado. Afinal de contas, se o PT foi o sétimo em número de votos, em quantidade de prefeituras conquistadas no Estado, a posição do partido cai para a nono lugar. Esse cenário aponta para uma difícil campanha pela reeleição do governador Wellington Dias em 2006.
A situação mostra que o partido teve problemas concentrados basicamente nas regiões Nordeste e Norte. Dos sete estados onde houve péssimo desempenho, cinco são nordestinos e os outros dois são nortistas. Para compensar, o PT foi bem no Nordeste em três lugares: Sergipe (1.º), Bahia (2.º) e Pernambuco (2.º). No Norte, foi campeão de votos no Acre, Amapá e Tocantins.
Alívio
Nacionalmente, o PT pode se sentir aliviado por ter ido mal em estados que não desequilibram o quadro de forças no País. Afinal, somente a votação no primeiro turno do candidato do partido à prefeitura de Nova Iguaçú, Lindberg Farias, supera a soma de todos os votos conseguidos pelo PT, por exemplo, no Rio Grande do Norte e na Paraíba (181 mil e 148 mil, respectivamente). O problema é que aponta para dificuldades claras em duas regiões, o que abre a possibilidade de aumento da capilaridade desse problema.
Além disso, no Rio de Janeiro, o PT também não se saiu bem. Terceiro maior colégio eleitoral entre todos os estados, o Rio deu 895 mil votos para o PT, que terminou apenas como o quarto partido mais votado entre o eleitorado fluminense. Para compensar, nos outros dois maiores colégios eleitorais do País, os petistas foram muito bem. Terminaram em segundo em São Paulo, com 5,4 milhões de votos e em primeiro em Minas Gerais, com 2,3 milhões de votos.
Para dirigente petista, PSDB é preconceituoso
São Paulo (AE) – O presidente nacional do PT, José Genoino, afirmou ontem que está havendo uma retomada do preconceito contra o partido por parte dos adversários, especialmente do PSDB, nas eleições deste ano. Em entrevista ao portal da legenda na internet, Genoino rebateu a tese de que o crescimento do PT nas eleições é uma ameaça à democracia e destacou a semelhança com o discurso dos tucanos realizado durante a campanha presidencial de 2002, quando Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito presidente da República.
“Os tucanos governaram o Brasil durante oito anos e o PT está apenas há dois anos no poder. Mesmo assim, essa fúria preconceituosa e reacionária é levantada”, disse Genoino. “O preconceito diante da eleição do Lula agora é retomado com nova roupagem.”
O presidente do PT também criticou a postura do candidato derrotado do PDT à Prefeitura da capital, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, que ratificou, na sexta-feira, seu apoio ao tucano José Serra no segundo turno, citando que seria “perigoso” o PT com “poder demais”. Genoino classificou Paulinho como “ventríloquo” dos tucanos e chamou de sofistas alguns intelectuais que compartilham a mesma idéia. “O que os tucanos e seus ventríloquos, como o Paulo Pereira, além de intelectuais – que se rebaixam ao papel de sofistas – estão propalando é uma retomada do preconceito contra o PT.”
Quanto à possibilidade da candidata à reeleição para a Prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy, recuperar no segundo turno a diferença do primeiro turno em relação a Serra, Genoino afirmou que o partido deverá modificar a situação por meio da intensificação da campanha nas ruas e com o debate de propostas. “Dá para recuperar essa diferença com a intensificação da campanha. A Marta deve continuar a estar presente nas ruas”, observou. “Temos que debater as nossas propostas, comparando-as com a maquiagem do candidato tucano. É assim que vamos reverter a situação”, destacou o líder petista.
Eleição destaca líderes políticos
Rio – O primeiro turno das eleições municipais consolidou a força de líderes políticos e aumentou o cacife de outros, mas não produziu vitórias ou derrotas tão acachapantes a ponto de provocar abalos no panorama da política nacional. Analistas consideram que a votação de 3 de outubro deve promover o surgimento de líderes regionais e possíveis rearranjos de poder dentro dos partidos, mas não provocará uma grande mudança no quadro da sucessão presidencial. Para o cientista político Fernando Lattman-Weltman, professor do CPDOC/FGV e da Puc-Rio, isso é um sinal de consistência do jogo político brasileiro.
“Eleição municipal é boa porque mostra que a política é muito mais diversa do que se imagina. Um partido que se imaginava condenado, como o PDT, teve um bom desempenho em várias cidades. Mas não há nenhuma mudança dramática no quadro político. Crescem PT e PSDB, enquanto PFL e PMDB perdem espaço. O jogo estadual começa a se definir, mas ainda há muita coisa pela frente. Vejo o sistema partidário evoluindo com bastante dinamismo. Os partidos têm uma certa consistência. É um jogo complexo, com muitos pólos de poder e muita gente negociando”, disse.
PFL e PDT formam frente
Rio de Janeiro – O PFL e o PDT articulam a retomada de uma frente de oposição ao governo federal logo depois das eleições. Ontem, os presidentes nacionais dos dois partidos, Jorge Bornhausen e Carlos Lupi, discutiram a realização até o fim do ano de uma reunião do Fórum das Oposições, que inclui ainda o PSDB.
Os dois dirigentes também discutiram a possibilidade de um apoio do PDT ao candidato pefelista em Fortaleza, Moroni Torgan, que enfrenta a petista Luizianne Lins. Em Manaus, outra capital onde o PFL está no segundo turno, as duas legendas são adversárias, com o PDT ao lado de Serafim Sampaio (PSB), contra o pefelista Amazonino Mendes.
“O fórum é um ponto de encontro das oposições. Vamos discutir os projetos que estão em andamento no Congresso e reunir as forças de oposição ao governo do PT. Tratamos deste fórum com Brizola quando ele ainda estava vivo e agora queremos levar adiante”, disse Bornhausen, lembrando o líder pedetista Leonel Brizola, que morreu em junho passado.