São Paulo – A Executiva Nacional do PT decidiu suspender por 60 dias os oito deputados que se abstiveram na votação da reforma da Previdência. O desligamento se refere às atividades de bancada e representação nas comissões especiais da Câmara dos Deputados. Os parlamentares continuam filiados ao partido durante a suspensão.

Foram 12 votos a favor da decisão e cinco contrários. O presidente do PT, José Genoino, afirmou que a decisão significou “uma posição de conciliação” com os oito parlamentares, diferente do que ocorre com os três chamados radicais da Câmara que devem ser expulsos da legenda, são eles: Luciano Genro (RS), Babá (BA) e João Fontes (SE).

Para Genoino, os oito deputados que se abstiveram da votação não estão adotando uma postura de confrontamento com o partido o que teria justificado a punição mais amena. “O objetivo é de preservar a disciplina partidária com esta decisão e ao mesmo tempo manter um bom relacionamento com os oito deputados. Não queremos esgarçar o partido”, declarou. A punição vale a partir desta segunda-feira. Os parlamentares punidos são: Walter Pinheiro (BA), Chico Alencar (RJ), Maninha (DF), Ivan Valente (SP), Mauro Passos (SC), João Alfredo (CE), Orlando Fanttazini (SP) e Paulo Rubem (SE).

Pesada e branda

Enquanto deputados petistas de correntes moderadas e mais afinados com o Palácio do Planalto consideraram “branda” a decisão da Executiva do PT de punir com o afastamento da bancada, por 60 dias, quem se absteve na votação da Previdência, os radicais acharam a punição pesada. “Não está condizente com o fato”, afirmou o deputado Professor Luizinho (PT-SP), um dos vice- líderes do governo na Câmara. Segundo ele, ao aliviar a punição para quem não seguiu as regras, o partido desanima os deputados que se expõem e defendem as teses do governo. “Eles não votaram apenas contra uma decisão da bancada. Votaram contra o nosso governo e contra decisão do partido”, sustentou.

Luizinho afirmou que acata a decisão da Executiva, mas lembrou que, em 1993, a deputada Luiza Erundina (PSB-SP), então no PT, foi suspensa por um ano porque aceitou ser ministra do então presidente Itamar Franco. “A decisão é contraditória”, completou Luizinho. O deputado Carlito Merss (PT-SC), em tom de protesto, afirmou que votou diversas vezes questões polêmicas com o partido, mesmo discordando da proposta. “O partido tem regras. Essa punição foi branda”, disse.

Punidos criticam “rigor bolchevique”

Brasília – O deputado federal Chico Alencar (RJ), um dos oito parlamentares punidos pela Executiva Nacional do PT, disse ontem que a decisão teve um “rigor bolchevique” e avisou que não deixará o partido. Chico Alencar, que se absteve na primeira votação da reforma da Previdência e votou contra a proposta no segundo turno, revelou que esperava uma advertência pública ou suspensão de, “no máximo, 15 dias a um mês” e considerou “pesada” a medida na executiva nacional. O deputado Walter Pinheiro (PT-BA), outro parlamentar suspenso, disse que as conseqüências da punição só poderão ser avaliadas de forma clara no futuro. “A porrada está dada; na frente eu posso achar até que precise me corrigir ou então quem aplicou a surra vai reconhecer que não deveria ter dado”, comentou, garantindo que não ficou decepcionado com a punição. A deputada Maria José Conceição Maninha (PT-DF), disse que considera “extremamente severa” a decisão da Executiva Nacional do PT. Maninha afirmou que os oito deputados não vão sair do partido e que ela continuará fazendo luta interna no PT. “Não há a menor perspectiva de sair do partido”, declarou Maninha.

Os oito deputados punidos reúnem-se hoje em Brasília para decidir se vão recorrer ao diretório nacional contra a punição. Chico Alencar disse não ter qualquer arrependimento da abstenção. “Não tenho dúvida de que era a decisão a ser tomada. Não foi um voto de oito rebeldes que queriam fazer birra. Expressou parte do PT e do pensamento crítico”, afirmou.

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