Brasília – Documento apresentado ontem pelo Campo Majoritário, corrente da maioria do PT, admite que o partido enfrentará o maior desafio em 2010, quando disputará uma eleição presidencial sem ter como candidato o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desde a retomada das eleições diretas para presidente, em 1989, que a legenda sempre concorreu com Lula.
É com a perspectiva dessa nova realidade, a partir de 2010, que o Campo Majoritário demonstra a preocupação. ?O PT sempre conviveu com duas frentes: o petismo e o lulismo. O petismo é uma determinada concepção política. O lulismo é um grande fenômeno popular, de empatia e de enormes setores da sociedade. Em 2010, de alguma forma, esses dois fatores estarão desassociados. É determinante estudar formas pelas quais a herança do petismo e herança do lulismo se manterão articuladas como referência importante para dar continuidade aos primeiros oito anos de transformação do País – de maneira que a ?revolução silenciosa?, tranqüila e democrática se faça mais ruidosa?, diz o texto que foi entregue ontem à direção da sigla para ser apresentado no 3.º Congresso da agremiação, em julho, pela chapa Construindo um Novo Brasil.
A chapa é representada pelo Campo Majoritário, corrente petista integrada pelo presidente e pelo ex-deputado José Dirceu (PT-SP), entre outros. No sábado, Dirceu tinha falado sobre a inquietação com a sucessão presidencial e que a coalizão com o PMDB era a chave para um desfecho bem-sucedido, eleitoralmente, desse processo. Ele admitiu até mesmo que o candidato da aliança não precisaria ser, necessariamente, um político integrante do PT.
A preocupação com os partidos de oposição também está presente no texto do Campo Majoritário. Referindo-se, diretamente, ao estrago eleitoral provocado na legenda com a perda de capitais importantes, como São Paulo e Porto Alegre, nas eleições de 2004 (?as eleições de 2004 deixaram marcas profundas em nossa vida?), a corrente propõe que sejam vedados acordos eleitorais com o PSDB, o principal rival político do PT, para 2008 e 2010.
?Propomos (…) recusa expressa, pelo 3.º Congresso, a eventuais alianças com o PSDB ou com qualquer outro partido neoliberal para a sucessão presidencial e eleições para os governos municipais e estaduais.? O Campo também sugere fazer ?oposição programática aos governos estaduais do PSDB e do PFL?.
O documento traz ainda críticas pesadas ao que chama de ?autismo político? e ?perestroika dentro do PT?, fazendo referência ao movimento interno liderado pelo chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Tarso Genro. Genro propôs em fevereiro a ?refundação? da agremiação, depois de constatar uma crise de corrupção ?ética e programática? no PT, atingido, duramente, nos dois últimos anos por sucessivas crises políticas, como o chamado escândalo do ?mensalão? e pela produção do suposto dossiê Vedoin (conjunto de papéis destinados a atacar candidaturas de políticos do PSDB).
Com o documento, os integrantes do Campo Majoritário rebatem esses ataques internos e alertam para o risco de que uma eventual vitória do grupo político de chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República conduzam o partido para uma espécie de gueto político-ideológico.