São Paulo  (AE) – Com uma proposta recheada de ataques ao PSDB e ao PFL e que pede mudanças na política de juros altos do Banco Central, o Campo Majoritário do PT, formado pelas tendências moderadas que controlam o partido, declarou-se contrário à CPI dos Correios, pedindo para que seus parlamentares não endossem a abertura da comissão e àqueles que já assinaram que retirem a assinatura do requerimento. O Campo Majoritário sinalizou, porém, na manhã de ontem, que o partido não punirá quem não retirar as assinaturas.

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O texto, cuja aprovação era dada como certa na reunião do Diretório Nacional que termina hoje, reitera argumentos usados no governo Fernando Henrique Cardoso com o mesmo objetivo: a suspeita de corrupção nos Correios já estaria sendo investigada pela Polícia Federal e outros órgãos, o que dispensaria uma investigação parlamentar. Não fala, porém, nem em fechamento de questão nem em punições para quem o violar. O texto também propõe um pacto entre governo, partidos e Congresso Nacional.

?Não estamos tomando resolução de fechamento de questão? disse o presidente nacional da legenda, José Genoino (SP). ?Estamos tomando uma resolução de orientação política, apelando para que os deputados que assinaram o requerimento retirem suas assinaturas.? Segundo ele, ?o que está em jogo é uma disputa radicalizada com setores da oposição mais interessados em impedir os avanços do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva do que em fazer investigação?.

O presidente do PT afirmou que todas as denúncias têm sido apuradas pelo governo Lula, no qual, afirmou, ?os casos de corrupção diminuíram em comparação à administração de FHC?. ?Somos governo?, reiterou ele, dizendo que o que está em questão é uma disputa radicalizada.

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O documento reconhece o direito da oposição de propor CPIs, mas diz que, no caso dos Correios, o PT entende que todas as medidas necessárias para punir os culpados foram tomadas. ?O PT estará atento a todas as investigações e exigirá, estabelecida a culpa, a punição dos envolvidos. Nesse contexto, de garantia de ampla investigação pelos órgãos adequados, o PT entende que, nesse momento, uma CPI é desnecessária. Por isso, orienta seus deputados e seus senadores para que não endossem a convocação da CPI. Recomenda também aos parlamentares que já deram o seu endosso à CPI para que o retirem. O PT fará gestões, ainda, junto a aliados, para que adotem o mesmo procedimento.

Segundo o texto, se a CPI ?for necessária e vier a ser instalada?, o PT lutará para que não se transforme ?num palanque para a demagogia e em um instrumento para atacar e inviabilizar o governo e paralisar os trabalhos no Congresso?. ?Não estamos fazendo operação abafa?, afirmou Genoino. ?O PT não está propondo engavetamento.?

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Na resolução proposta, o PT diz que, no governo Lula, a corrupção ?tem sido combatida de forma implacável?, tanto que diminuiu substancialmente na quantidade e na qualidade dos casos. ?Convém lembrar que no governo do PSDB e do PFL aconteceram grandes escândalos?, diz o texto.

Dirceu acusa manobra

São Paulo – O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, afirmou, neste sábado, que os partidos de oposição liderados pelo PSDB pretendem ?de forma irresponsável? criar ?uma crise institucional artificial?, com o objetivo de ?desestabilizar o governo Lula?. Segundo Dirceu, o Congresso Nacional é soberano para aceitar ou não o pedido de abertura de uma CPI para investigar denúncias de corrupção nos Correios, mas frisou que ?não peçam o apoio do governo para uma CPI que mudou de caráter, que visa desestabilizar?.

?Querem (o PSDB) antecipar a sucessão presidencial e criar um clima artificial no país de crise institucional? afirmou o ministro.

?Eles nunca aceitaram a nossa vitória (nas eleições de 2002). Essa é a verdade. Como não conseguem fazer oposição, porque o governo tem muito a mostrar do que já foi feito, querem desestabilizar o governo. Mas não vamos nos intimidar.?

Dirceu, que participou do encerramento de um encontro estadual dos vereadores do PT, em Embu, também fez duros ataques ao governador Geraldo Alckmin e ao prefeito José Serra. O ministro chamou o governo Alckmin de ?incompetente?. ?O Alckmin afirma agora que existe uma crise no governo federal. Então, São Paulo está em crise há 10 anos. Eles gastaram só na Febem R$ 5 bilhões e não resolveram nada. É uma vergonha. E o governador vem falar em eficiência e gestão. Eles não têm autoridade porque quase quebraram o país três vezes. Tem sinal de maior incompetência do que a Febem??

Dirceu minimizou a importância de o PT ter perdido maioria tanto na Câmara como no Senado. Segundo ele, isso faz parte da democracia e o governo Lula vai ?usar os métodos da democracia? para recuperar a maioria dos votos no Congresso.

?Vamos, como é típico do presidente Lula, com serenidade continuar governando o país e recompor a maioria pelos métodos da democracia. Não vamos nos intimidar porque eles querem ganhar no grito.?

Efeito sobre a economia

Brasília – O ministro da Fazenda, Antônio Palocci Filho, engrossou a articulação do governo para debelar a crise na base governista e o risco de instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que pretende apurar denúncias de corrupção envolvendo membros do Poder Legislativo e funcionários dos Correios. Recorrendo ao argumento de que uma crise política pode abalar a economia, Palocci esteve na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), na noite da última quinta-feira. De lá, foi jantar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Granja do Torto.

Na conversa, Palocci manifestou preocupação com a fragilidade da base aliada. Renan foi o porta-voz dessa apreensão ontem, ao falar da disposição do brasileiro, inclusive o empresariado, de ajudar o governo. ?O empresariado quer remover gargalos para que o país continue a crescer e teme que a crise política arruíne o ambiente econômico?, afirmou Renan.

Com 85 deputados (29 deles signatários do pedido de CPI) e 22 senadores, o PMDB é alvo da ofensiva do governo. Ontem, Renan e o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) tomaram café com Lula. Na véspera, Renan almoçou com o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT).