O presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, declarou ontem, que “o Brasil votou sem medo de ser feliz”, que governará “para todos” e que recuperará a liderança de seu país para “construir um mundo efetivamente em paz”. Em sua primeira mensagem à nação como presidente eleito, Lula quis felicitar “todo o povo brasileiro pelo extraordinário espetáculo de democracia” que deu nas eleições de ontem, que o candidato socialista ganhou com mais ou menos 61% dos votos válidos, contra 38% obtidos por José Serra (PSDB).
Lula também agradeceu o atual presidente, Fernando Henrique Cardoso, por sua decisão de dirigir “a mais sensata e democrática transição vista no Brasil”.
Diante de dezenas de jornalistas brasileiros e estrangeiros, Lula estendeu seu agradecimento aos que votaram nele, aos que votaram em seu adversário, José Serra, cujo nome não mencionou, e à “atitude do povo, que consolidou a democracia”.
Lula disse que o resultado das eleições lhe obriga a “afirmar que a partir de 1º de janeiro” será o presidente de “todos” os brasileiros e a reconhecer que a “responsabilidade” de dirigir o destino do Brasil “é muito grande”. Com lágrimas nos olhos, assegurou que “não é exagerado dizer que um presidente, seu vice-presidente e sua equipe não são suficientes para governar”.
Segundo Lula, “é necessário convocar toda a sociedade, os homens e mulheres de bem, toda a sociedade, os empresários, os sindicalistas, os intelectuais e os trabalhadores rurais, para construir um país mais justo, fraterno e solidário”.
Em uma mensagem à “comunidade internacional”, disse que o Brasil “pode ter um papel extraordinário no continente americano para que possamos construir um mundo efetivamente em paz, para que outros países possam crescer economicamente e do ponto de vista social, para benefício de todo seu povo”.
Lula se comprometeu também a fazer “tudo” o que estiver a seu alcance para “que a paz seja uma conquista definitiva de nosso continente”.
Segundo o presidente eleito do Brasil, seu país “está mudando em paz, e o mais importante é que a esperança ganhou do medo, o Brasil votou sem medo de ser feliz”. Em uma entrevista com o canal de televisão Globo, lembrou as penúrias de sua mãe, falecida há 22 anos, para criar seus filhos em meio à pobreza e a pôs como um exemplo de mulher brasileira.
Festa na Avenida Paulista
Um “mar de vermelho e branco” tomou conta da Avenida Paulista para comemorar a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. O público começou a chegar antes mesmo da divulgação da pesquisa de boca-de-urna e dos primeiros números da apuração dos votos para presidente. Segundo a assessoria do PT, cerca de 100 mil participam da festa. Segundo a PM, seriam de 50 mil pessoas.
A PM estimava um público semelhante ao da comemoração do “Penta” – algo entre 30 mil e 50 mil pessoas. Segundo a organização do evento, a estrutura estava preparada para comportar até 500 mil pessoas.
A avenida ficou interditada nos dois sentidos, ente a Alameda Peixoto Gomide e a Praça Osvaldo Cruz.Cerca de 150 policias fazem o policiamento do local. Um palco foi armado em frente à escadaria do prédio da Gazeta, onde se apresentaram grupos de pagode e samba. O grupo Arte Popular foi o primeiro a se apresentar.
O grupo Asa de Águia se apresentou em cima de um trio elétrico que ostentava faixas com os dizeres A esperança venceu o medo”.
Mesmo sem a totalização dos votos, o clima de viitória tomou conta do público e da organização do evento. Às 21h25, o TSE anunciava que o candidato petista já estava matematicamente eleito.
Mercado deve reagir bem
A reação do mercado financeiro à eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve ser positiva nos primeiros dias desta semana. A opinião é do diretor da Fitch Ratings, Rafael Guedes. “É sempre positivo quando se tem alguma decisão. A indefinição é que é ruim para os investidores”, disse o executivo.
Após a definição do novo presidente, Guedes diz que as preocupações do mercado mudam de foco. “Agora, a dúvida é saber qual vai ser a equipe, como vai ser a transição”, enumerou. Guedes também ressaltou que investidores vão começar a cobrar com mais força definições práticas, como a meta de superávit do próximo governo ou as prioridades do Orçamento.
Apesar de o mercado pedir os nomes da equipe econômica o mais rápido possível, Guedes prevê que a definição não deve ser anunciada tão rapidamente. “O partido tentará proteger esses nomes”, aposta. Para ele, a equipe completa deve ser divulgada apenas em meados de novembro.