São Paulo (AG) – Formalizada a aliança entre PT e PL, as posições antagônicas entre a Igreja Católica, ligada ao PT, e a Igreja Universal do Reino de Deus, que exerce controle significativo sobre a organização dos liberais, podem trazer problema para um futuro governo de Luiz Inácio Lula da Silva. O deputado Bispo Rodrigues (PL-RJ), líder do partido na Câmara dos Deputados e principal representante da Universal entre os liberais, não admite que a questão do planejamento familiar venha a ser entregue, em um eventual governo Lula, aos católicos, a quem atribui posições conservadoras, “da Idade da Pedra”, em matéria de sexualidade.
“Existem várias posições divergentes entre a Universal e a Igreja Católica. Tem a questão do aborto, do divórcio, pílula anticoncepcional, planejamento familiar. Nós somos a favor do planejamento familiar e os católicos são contra. Nessas questões da sexualidade, a Igreja Católica continua na Idade da Pedra”, explicita Bispo Rodrigues. Católico fervoroso, o deputado Padre Roque (PT-PR) manifesta sem constrangimento sua posição contrária ao aborto. Mas admite que o assunto deve passar por uma grande discussão nacional.
“Sou radicalmente contra o aborto. Mas é um tema que temos que enfrentar com muito mais profundidade e tranqüilidade, em conferências, debates. Há um problema real, que é a quantidade de abortos clandestinos que acontecem todos os dias”, diz Padre Roque. No meio do caminho entre os dois está a opinião do próprio candidato. Lula já declarou que, pessoalmente, é contra o aborto. Mas argumentou que, devido ao grande número de adolescentes que morrem todos os anos no Brasil em conseqüência de abortos realizados clandestinamente, acredita que o procedimento deveria ser legalizado.
Lula já afirmou ser a favor do projeto que legaliza a união civil entre homossexuais, outro assunto destinado a causar polêmica entre evangélicos e católicos de vários matizes. Mas, mesmo com opiniões diferentes, Padre Roque e Bispo Rodrigues defendem o entendimento. Rodrigues acha fundamental o relacionamento entre as pessoas, e não entre as igrejas, que são de fato diferentes; Roque não acredita em conflitos.
Apostando no relacionamento entre as pessoas e no apoio que a bancada da Igreja Universal, toda ligada ao PL, pode dar a um possível governo Lula, Rodrigues não esconde as divergências entre as igrejas. Ele não crê em avanços entre os católicos por causa do centralismo exercido pelo Vaticano. “A Igreja Católica não caminha para avançar. Ela é uma igreja milenar e para mudar tem de mudar o Papa. Tem de entrar um Papa progressista. E isso está longe de acontecer. Isso teria de ser de cima para baixo. A Igreja Católica nunca mudou de baixo para cima, sempre de cima para baixo”, diz.
Na área social, para a qual o PT tem prioridades com as quais Roque concorda, como o combate à fome, a geração de emprego e de renda, saúde e educação, Rodrigues acrescenta um item: “Se há uma coisa urgente de que o Brasil precisa é o governo investir em casa própria para baixa renda, para pessoas que jamais conseguirão financiamentos. São 50 milhões de miseráveis, que vivem abaixo da linha de pobreza. Essa é a coisa mais importante que o país tem que fazer: criar dez milhões de moradias para os absolutamente pobres, que podem pagar talvez um real por mês”, diz. Apesar da coligação dos partidos, Rodrigues diz que a Igreja Universal ainda não se decidiu sobre o apoio a Lula. Ele acredita que o conselho de bispos tomará uma decisão em dez dias.
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