PT no poder passa pela economia, avalia Berzoini

São Paulo (AE) – O PT tenta desesperadamente ampliar sua influência sobre os rumos da política econômica no último ano do governo Lula. No sábado passado, durante a primeira reunião do Diretório Nacional eleito em setembro, o partido cobrou, por exemplo, a redução imediata do superávit primário – a economia para pagamento de juros da dívida pública. Tema recorrente do fogo amigo no governo, o ex-ministro e presidente do PT, Ricardo Berzoini, sustenta que o superávit não pode ser tratado como ?vaca sagrada?, ?fetiche? ou ?tabu?. ?Não há monopólio da responsabilidade fiscal ou econômica?, diz o ex-ministro do Trabalho e da Previdência, não sem uma pitada de provocação ao ministro da Fazenda, Antônio Palocci. Mas Berzoini garante que o PT valoriza muito a obra do ministro. ?Está em jogo o que fazer daqui para frente?, afirma, preocupado com a retração da economia que atinge os índices de aprovação do governo e o desempenho de Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição.

As últimas pesquisas divulgadas apontam cenário desfavorável para o governo e para a reeleição do presidente Lula. O que fazer diante desses resultados?

Ricardo Berzoini – As pesquisas mostram a consolidação de um desgaste político que pode ter raízes, de acordo com a interpretação do interessado, na crise política, pela sucessão sem precedentes de notícias negativas vinculadas a denúncias nem sempre comprovadas – na maioria das vezes não – mas que atingem a imagem do PT e do governo. Na outra vertente, há uma frustração de expectativas em relação ao desempenho da economia neste segundo semestre. Isso tem um papel muito importante na avaliação popular e ajuda a reduzir a aprovação e expectativa de voto. Melhor que seja agora esse tipo de pesquisa sinalizadora porque nos permite planejar que tipo de interlocução faremos com a opinião pública. Temos de qualificar o debate sobre ética e, a partir não apenas de propostas e da sistematização dos bons resultados obtidos na área social, na economia e no emprego, mas também apresentando já uma forma de gerir 2006 mais adequada à realidade da economia hoje. Não é possível em 2006, com um quadro do paciente totalmente diferente de 2002, aplicar o mesmo remédio que em 2002.

Quais mudanças são urgentes no último ano de governo?

Berzoini – O PT defende que a execução orçamentária seja mais linear, menos burocratizada. É preciso acelerar as liberações. Não por uma razão meramente político-eleitoral mas por reconhecer o papel que o Estado tem na dinamização da economia. O País reclama mais investimentos na infra-estrutura e no aparelhamento do Estado. E a redução da taxa de juros tem de ser mais veloz. O que o Copom fez agora em dezembro é contraditório com o próprio modelo que o Copom adota quando temos hoje uma inflação sob controle. Em 2006, ao contrário do início de 2005, os fatores até ajudam a puxar a inflação para baixo, com os resultados do IGP, por exemplo. Há muito mais espaço hoje para baixar os juros do que há um ano. O risco país está menor e o Brasil deu uma demonstração de força ao antecipar a liquidação de seus compromissos com o FMI.

E na área social o que é preciso?

Berzoini – Essa é uma área muito forte no nosso governo. Os programas são bem-sucedidos e têm impacto na distribuição de renda. Bolsa-Família, Universidade para Todos, Luz Para Todos, os programas à juventude e outros. Nessa área temos de fortalecer a comunicação e mostrar claramente que o governo tem um conjunto de realizações muito expressivo. O PT deve fazer isso, mas na condição de gestor o governo deve disseminar de maneira mais clara o que foi feito e garantir a ampliação desses programas já.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo