São Paulo – O diretório nacional do PT destina parte de seu orçamento anual de R$ 43 milhões para estimular os movimentos populares que hoje pressionam o governo de Luiz Inácio Lula da Silva a intensificar ações na área social. O dinheiro não vai diretamente para as entidades, que têm suas próprias fontes de renda, nem é usado para financiar invasões rurais ou urbanas, rejeitadas pela cúpula do partido. A verba ajuda a pagar material de divulgação, faixas e bandeiras usadas em ações como o Grito dos Excluídos e o Fórum Nacional de Lutas, que amplificam ações de grupos como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e a Central de Movimentos Populares (CMP), que fazem ocupações de propriedades e se uniram para aumentar a pressão sobre o governo.
O orçamento do PT para 2003 destina R$ 707 mil para mobilização social e participação em eventos organizados pelos movimentos populares. O partido também reserva R$ 4,7 milhões para atividades políticas de mobilização, entre elas as secretarias nacionais de Movimentos Populares, Agrária e de Mobilização, que atuam diretamente junto ao MST, ao MTST e à CMP.
“O PT não dá dinheiro para as entidades. Elas são autônomas e têm fontes próprias. Esses recursos são para a atuação do PT em eventos dos quais os movimentos também participam. O PT não pode perder de vista a solidariedade. Neste sentido acabamos tendo uma relação com eles, podemos dar um panfleto ou cartaz para a CMP”, diz Francisco Campos, secretário nacional de mobilização do PT.
A destinação das verbas foi decidida em março, quando o grau de radicalização desses grupos era menor. Mas a executiva nacional do PT decidiu, há cerca de um mês, estreitar as relações com os movimentos populares. A avaliação da cúpula petista era de que o governo Lula corria o risco de perder o controle da situação nos dias em que se acumularam ameaça de greve no Judiciário, atritos com a CUT, greve de servidores, desemprego recorde e queda de renda.
Sindicalistas rompem com o PT
São Paulo
– No topo dos mais influentes sindicatos de Brasília está o Sindilegis, sigla do Sindicato dos Servidores do Poder Legislativo Federal e do Tribunal de Contas da União. Com 12 mil filiados e receita de R$ 250 mil mensais, o Sindilegis e outras entidades com o mesmo status preparam uma surpresa para o governo: a criação da Central dos Servidores Públicos (CSP), entidade que não terá vínculos com a CUT ou qualquer outra central, e muito menos com partidos políticos. A CSP terá atuação independente, prevê seu estatuto.Desde que a reforma da Previdência entrou em sua fase decisiva, o Sindilegis tem dado demonstrações de força e pujança destacando-se inclusive no horário nobre da TV, com inserções nos intervalos do “Jornal Nacional” da Rede Globo. O repertório da propaganda é o mesmo adotado por outras categorias: pesadas críticas ao polêmico projeto do governo Lula. Investimento desse porte não sai por menos de R$ 250 mil cada bloco de 30 segundos.
Ezequiel Souza do Nascimento, presidente do sindicato, informa que o custo para o Sindilegis ficou em R$ 60 mil/mês porque as mensagens são veiculadas “apenas uma vez por semana e têm alcance local”. Formado em economia, Ezequiel está há 16 anos na Câmara. Exerce a função de técnico legislativo na liderança do PSB, com salário de R$ 5.588. Lamenta a baderna que levou ao chão as vidraças do Congresso, mas adverte: “Há um clima de ódio e ressentimento, nenhum governo investiu tanto na mentira e na destruição da imagem do servidor.”