PT faz pacto para blindar Palocci

O PT fez ontem um pacto em defesa do ministro da Fazenda, Antônio Palocci, e demonstrou, na primeira reunião do ano do diretório nacional – instância máxima do partido -, um discurso de unidade poucas vezes visto na história da sigla. Em um encontro esvaziado, em São Paulo, os dirigentes petistas defenderam enfaticamente a permanência de Palocci e procuraram desqualificar as revelações feitas pelo caseiro Francenildo dos Santos Costa. Líder do PT na Câmara, o deputado Henrique Fontana confirmou a tendência do partido de se unificar em um momento de forte ataque: "O PSDB e o PFL partem para a fase do desespero e ataques irresponsáveis para evitar que cheguemos às eleições discutindo projetos".

Até mesmo petistas radicais, críticos ferrenhos da política econômica adotada por Palocci, saíram em defesa do titular da Fazenda. O secretário-geral do PT, Raul Pont, disse que as denúncias reveladas pelo caseiro ao Estado ?são secundárias, irrelevantes?. "Está se criando uma celeuma muito maior", afirmou ao chegar para o encontro na sede do partido. Para Pont, da tendência de esquerda Democracia Socialista, a questão que envolve Palocci "é pessoal e não tem nada com sua função como ministro". E prosseguiu: "Isso é instrumento de polarização política no País". O secretário-geral petista advertiu que outros temas são mais relevantes no momento. "Não tem que se preocupar com isso porque há questões mais sérias a serem debatidas como o novo modelo, paradigma para o serviço de TV e radiodifusão."

Sobre a quebra de sigilo não autorizada que envolveu o caseiro Francenildo, Pont procurou minimizar. E demonstrou indignação à importância que a imprensa tem dado às denúncias. "O que (as denúncias feitas por Francenildo) isso tem a ver com as grandes razões de Estado. Qual crime foi cometido ou acusação sobre as políticas públicas. Que provas ele apresentou?", questionou para, em seguida, afirmar que é Francenildo quem deve "dar explicações".

Integrante da corrente O Trabalho, também da esquerda, Markus Sokol, um dos mais ferrenhos críticos da política econômica do governo do PT, defendeu ontem a "demissão" do modelo em vigor, mas não a de Palocci. Ao ser questionado se o titular da Fazenda deveria ser substituído, Sokol sugeriu a troca do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e dos ministros Roberto Rodrigues (Agricultura) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio), "que nunca tiveram ligação" com o PT, o que não se aplica, ressaltou, ao petista Palocci.

Terceiro vice-presidente do PT, Jilmar Tatto, assegurou que o PT não vai faltar, neste momento, em apoiar não apenas Palocci, mas também a política econômica do governo. "Não há dificuldade nenhuma na manutenção de Palocci." Sobre a quebra de sigilo do caseiro, Tatto disse que toda ilegalidade tem de ser apurada. Mas centrou suas críticas à CPI dos Bingos que, segundo ele, tem fugido do seu objetivo, o que "caracteriza ilegalidade". Tatto antecipou que o PT poderá voltar a recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) em razão do desvio de foco da CPI.

Advogado tenta descobrir quem quebrou sigilo do caseiro

Brasília (AE) – O advogado do caseiro Francenildo Santos Costa, Wlicio Chaveiro Nascimento, iniciou ontem os procedimentos para apurar os nomes dos responsáveis pela quebra, sem autorização legal, do sigilo bancário dele. Nascimento disse que pedirá ajuda do Ministério Público (MP) e da Polícia Federal (PF) para identificar o que entende ser "uma violação a um direito legalmente assegurado pela Constituição". "Houve uma ilegalidade, Francenildo não é objeto de nenhuma investigação", lembrou.

O advogado disse que passou a defender o caseiro, mais conhecido como "Nildo", sem nenhum tipo de remuneração, para atender a amigos que se solidarizaram com o gesto de contar o que viu nos oito meses em que trabalhou numa casa do Lago Sul para ex e atuais assessores do ministro da Fazenda, Antônio Palocci.

Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos, interrompido aos 55 minutos, por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), o caseiro contou que Palocci era freqüentador da casa onde era feita distribuição de dinheiro para integrantes da chamada "República de Ribeirão Preto", e realizadas festas com garotas de programa. Para o advogado, o que há é uma "conspiração medíocre para calar fatos que realmente ocorreram".

Nascimento chama de "conspiração", além da violação da conta bancária do rapaz, o fato de a revista Época ter divulgado dados que seriam falsos sobre a conta bancária do caseiro na Caixa Econômica Federal (CEF). Segundo o advogado, a reportagem sugere que ele recebeu dinheiro da oposição para contar o que sabe sobre as idas de Palocci à casa do Lago Sul. A residência foi alugada em nome do economista Vladimir Poleto, mas, segundo o caseiro, o dinheiro do aluguel e outros gastos, até mesmo o das prostitutas, vinha de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, da empresa do ex-assessor de Palocci Rogério Tadeu Buratti.

A revista diz que ele recebeu R$ 38,6 mil. O caseiro mostrou extratos mostrando que entraramna sua conta R$ 25 mil, depositados pelo empresário Eurípedes Soares da Silva. Nildo disse que – conforme é público na cidade onde nasceu, Nazária (PI), Silva é o pai que não o reconheceu.

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