Brasília
– O já quase governista PT e os já quase oposição PSDB e PFL não conseguiram chegar a um acordo, ontem, sobre a votação da Medida Provisória 66, que dá o pontapé inicial para uma proposta fundamental do presidente eleito Luiz Inácio da Silva: a minirreforma tributária. Sem acordo, os líderes partidários na Câmara decidiram não votar a medida em plenário, na sessão marcada para as 11h. O presidente da Câmara, Aécio Neves, reuniu-se com as lideranças para intermediar as negociações visando a um acordo que permitisse a votação, mas não houve consenso.“Ontem, avançamos muito nos entendimentos, mas eu me reunirei à tarde e darei um prazo fatal para a votação, terça-feira que vem, mesmo sem entendimento”, disse Aécio. “Aí vencerá quem tiver mais voto e quem quiser obstruir”. O PSDB de Aécio estaria querendo mostar, igualmente, que não gostou de recentes críticas ao governo de FHC e por isso não votou, revelando a primeira divergência do processo de transição. Nos últimos dias, diversos petistas que tiveram acesso ao diagnóstico do governo de FHC têm criticado o governo, inclusive o próprio Lula, que disse a sindicalistas na terça-feira que herdará um “abacaxi” difícil de descascar.
O líder do PT na Câmara, deputado João Paulo Cunha, declarou ontem que “a herança que será deixada para o presidente eleito é de um país endividado e com instabilidade econômica”. O ponto crucial da minirreforma é a prorrogação, até dezembro de 2003, da alíquota máxima de 27,5 por cento do Imposto de Renda da Pessoa Física. A prorrogação da alíquota representa acréscimo de até R$ 2 bilhões no caixa do novo governo. Os líderes do PFL, por sua vez, resolveram bater de frente com os anseios do PT e ameaçaram apresentar duas emendas, retirando a alíquota de 27,5 por cento e impondo uma de 25 por cento, que vem a ser a outra proposta. O PFL agora também quer retirar a alíquota de nove por cento da Contribuição sobre o Lucro Líquido das empresas.
Encontro
Para tentar encontrar uma saída para o impasse, os presidentes nacionais do PSDB, deputado José Aníbal (SP), e do PT, deputado José Dirceu (SP), fazem hoje a primeira reunião desde a eleição de Lula. O encontro acontece um dia após a primeira crise política da transição entre os dois partidos. As negociações em torno da MP 66, que trata da minirreforma tributária, puseram em campos opostos as bancadas do PSDB e PT, motivando, inclusive, o adiamento da votação da matéria para terça-feira.
O que mais irritou os tucanos foram as entrevistas de petistas afirmando que a “lua-de-mel” entre os dois governos acabaria, uma vez que FHC estaria deixando uma situação drástica para Lula. Por outro lado, os petistas ficaram insatisfeitos com entrevistas de tucanos, como Aníbal, segundo as quais FHC deixa uma herança muito positiva para Lula.