São Paulo – Das oito teses inscritas pelos 83 integrantes do diretório nacional do PT, reunido ontem e hoje, seis pedem mudanças na condução da política econômica do governo Lula.
A única que defende a manutenção da atual política econômica, e que deve ser aprovada ao final do encontro, é a assinada pelo Campo Majoritário, tendência que detém 60% do diretório nacional e que é liderada pelo ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu e pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A “tese guia”, como é chamada a tese do Campo Majoritário, diz que a política econômica do ministro Palocci está dando certo ao conter a inflação, reduzindo os juros paulatinamente, e vai dar frutos positivos este ano com o crescimento da economia e a manutenção da estabilidade econômica.
O encontro acontece a portas fechadas e longe da imprensa. Isso mostra, segundo o deputado Chico Alencar (RJ), que o Campo Majoritário já não está tão unido e está enfrentando dificuldades internas para continuar defendendo a política de Palocci.
Divisão
Um exemplo da divisão seria o deputado José Eduardo Martins Cardoso, do Campo Majoritário, que assinou o documento do grupo dos quinze (deputados da esquerda do partido) que desejam mudanças já na política econômica, como a redução da taxa de juros, a flexibilização das taxas de inflação e a redução do superávit primário acertado com o FMI.
As seis teses da esquerda do PT pedem mudanças na política econômica, além da adoção de medidas emergenciais para aumentar o emprego e renda. Segundo os deputados Ivan Valente (SP) e Chico Alencar, a esquerda deverá ser derrotada na reunião que termina hoje e o texto final do encontro deverá apoiar a política do governo Lula.
De qualquer modo, Valente disse que a esquerda vai tentar nesses dois dias de encontro garantir algumas emendas no documento do PT. “Queremos que o partido pelo menos defenda algumas mudanças de rumo na política econômica e adote as medidas de emergência para criar empregos e aumentar a renda dos brasileiros”, disse.
Líder recomenda “modéstia”
São Paulo
– O líder do governo na Câmara, deputado professor Luizinho, pediu, durante o encontro nacional da executiva do partido, “um pouquinho de vergonha e modéstia” ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Luizinho atacou a troca de elogios entre o ex-presidente e o ministro da Fazenda, Antônio Pallocci, anteontem. “Ele (Fernando Henrique) nos entregou um País sem patrimônio, porque vendeu tudo; uma dívida de quase R$ 900 bilhões, metade dela dolarizada; uma escalada inflacionária; e juros nunca vistos na nossa História”, lembrou o deputado.Para ele, ao criticar o atual governo, Fernando Henrique deixou o papel de estadista. “Então ele também tem de receber críticas e explicar ao País tudo o que fez.” Antes de entrar para a reunião da executiva, Luizinho também rebateu as críticas dos setores mais à esquerda do partido, que continuam exigindo mudanças na política econômica.
Para Genoino, Lula está certo
O presidente nacional do PT, José Genoino, disse ontem que o rumo do governo Luiz Inácio Lula da Silva está no caminho certo, os sinais são positivos e que, a partir desse momento, o crescimento econômico e a geração de empregos serão prioridade.
Genoino falou aos jornalistas sobre o texto apresentado pela maioria petista, que defende as mudanças que o governo está realizando. “Defendemos as mudanças que nós já processamos e executamos no país, considerando o que nós recebemos; a defesa do que foi feito na gestão macroeconômica”, ressaltou.
Genoino diz que foram criadas as bases essenciais da política econômica para que o país, agora, entre numa outra prioridade, que é o crescimento e a geração de emprego, tanto em relação aos indicadores macroeconômicos, quanto em relação aos programas sobre política industrial, crédito popular, construção civil e moradia, além do investimento em obras emergenciais. “Temos, portanto, uma postura de colar o PT numa defesa ofensiva do governo do PT, do presidente Lula.”
Perguntado sobre metas inflacionárias e salário mínimo, Genoino disse que a questão não está no debate. “Não estamos fazendo debate sobre metas ou salário mínimo. Queremos que vá alem da inflação, portanto que recupere o poder aquisitivo do salário, mas não estabelecemos número.”
O Brasil, segundo Genoino, pode crescer e ter outra prioridade sem alteração “brusca nem precipitada” de meta de inflação. “O governo, no momento certo, vai encaminhar o tema ao centro do debate, e nós não vamos nos pronunciar sobre isso.”
Conforme explicou Genoino, o governo está trabalhando para gerar emprego: primeiro para melhorar os indicadores econômicos. “O crescimento do país vai significar geração de emprego”, destacou.