PT avança no Nordeste e tucanos nos estados ricos

Brasília – Assim como na cidade de São Paulo houve uma divisão entre o eleitorado da periferia e o das regiões centrais, também em todo o País o PSDB conseguiu sagrar-se vitorioso nos estados mais ricos e o PT teve esmagador domínio nas regiões mais pobres.

Na cidade de São Paulo, as regiões centrais foram as principais responsáveis pela eleição de José Serra (PSDB). A periferia, por sua vez, deu mais votos a Marta Suplicy (PT). Da mesma forma, no mapa político brasileiro, os estados econômica e socialmente mais desenvolvidos, localizados nas regiões Sul e Sudeste, elegeram majoritariamente candidatos do PSDB.

Além de São Paulo, o partido do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) ganhou em Curitiba (PR) e Florianópolis (SC). Entretanto, não fez nenhuma capital na região Norte. Das cinco capitais conquistadas por tucanos, só Teresina (PI) e Cuiabá (MT) estão em áreas menos desenvolvidas.

Já o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva venceu em sete capitais nas regiões Norte e Nordeste: Recife (PE), Fortaleza (CE), Aracaju (SE), Macapá (AP), Palmas (TO), Rio Branco (AC) e Porto Velho (RO). Também ganhou nas duas menores capitais do Sudeste: Belo Horizonte (MG) e Vitória (ES). E não fez nenhuma capital nas regiões Sul e Centro-Oeste.

As derrotas em regiões mais ricas ofuscaram o crescimento expressivo do PT em número de prefeituras. O partido, que hoje comanda 187 cidades, vai controlar 409 a partir de 2005. Já o número de prefeituras do PSDB caiu de 996 para 871. Por outro lado, o partido hoje não controla nenhuma cidade com mais de 1 milhão de eleitores mas teve vitórias importantes.

Apesar de encolher, o PMDB ainda será o partido com maior número de prefeituras. Vai controlar 1.059 cidades, contra 1.257 atuais. Mas, o PMDB não elegeu nenhum prefeito nas cidades com mais de 1 milhão de eleitores, apesar de vencer em duas capitais: Goiânia (GO) e Campo Grande (MS). Outros partidos que perderam espaço foram PFL (comandava 1.028 cidades e ficou agora com 789) e PP (caiu de 618 para 551). Entre as capitais. o PFL só comandará o Rio e o PP não elegeu nenhum prefeito.

Já os partidos da base de apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva cresceram, com destaque para o PL, que passou de 234 para 382 prefeituras. O partido, entretanto, também não venceu em nenhuma capital. O PSB, por sua vez, conseguiu três capitais (João Pessoa, Manaus e Natal) e cresceu de 133 para 176 prefeituras. Outro partido que foi bem em capitais foi o PDT, que venceu em São Luís (MA), Maceió (AL) e Salvador (BA). O partido ainda elevou o número de cidades controladas de 208 para 305. Também cresceram PPS, que passou de 166 para 306 prefeituras e venceu em Porto Alegre (RS) e Boa Vista (RR), e o PTB, que foi de 398 para 425 prefeituras e levou Belém (PA).

PT foi abalado, mas Lula está forte

São Paulo – É inevitável: o resultado das eleições de 2004 que apontam para perdas importantes do PT em colégios eleitorais expressivos serve de ponto de partida para discutir a sucessão presidencial que ocorrerá somente daqui a dois anos. O equilíbrio de forças políticas no País foi recomposto, com baixas para alguns lados e conquistas para outros. Segundo a consultora Fátima Pacheco Jordão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi um dos grandes perdedores, em termos políticos, com o resultado deste segundo turno das eleições municipais em São Paulo, onde a prefeita e candidata à reeleição, Marta Suplicy (PT), foi derrotada pelo tucano José Serra. Além de São Paulo, a derrota petista no Rio Grande do Sul, sobretudo em Porto Alegre, deverá levar a uma reorganização das forças políticas no governo, diz Fátima.

Com o resultado do segundo turno, a consultora destaca que o governador do estado, Geraldo Alckmin (PSDB), sai fortalecido e é um dos principais nomes do partido para as eleições gerais de 2006, mesmo que não admita isso oficialmente. “A vitória do PSDB, principalmente na capital, leva Alckmin a uma posição de maior força dentro do partido.”

No entanto, se Alckmin se transformou em uma alternativa para a oposição em 2006, o nome de Lula continua forte para a reeleição. Na realidade, este projeto depende muito mais do desempenho econômico do governo Lula nos próximos dois anos. Segundo a diretora-executiva do Ibope, Márcia Cavallari, “o presidente Lula segue como um forte candidato”. Segundo Cavallari, as eleições que se encerraram domingo tiveram dois grandes vencedores, exatamente o PT e o PSDB, que ampliaram seus domínios em territórios diferentes, mas inegáveis. “A eleição mostrou a força dos dois partidos.”

Alckmin é um nome forte para 2006

São Paulo – Principal cabo eleitoral e apontado como grande responsável pela vitória de José Serra na eleição paulistana, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) passa a administrar, após a vitória tucana, um grande dilema para definir seu futuro político: entrar ou não na disputa para a Presidência da República em 2006, enfrentando o virtual candidato à reeleição, Luiz Inácio Lula da Silva, tido até agora como imbatível.

Alckmin tem ainda as alternativas de disputar uma vaga na Câmara dos Deputados ou no Senado Federal, mas a hipótese que mais motiva secretários e assessores diretos no Palácio dos Bandeirantes é mesmo a Presidência, inclusive porque, se tentar ingressar no Senado, o governador tende a enfrentar um páreo considerado duríssimo, o senador Eduardo Suplicy (PT), provável candidato à reeleição.

Discreto e prudente, o governador não só evita falar sobre 2006 nas entrevistas, como orientou seus auxiliares a bloquearem todo o tipo de debate público sobre sua possível candidatura. “A estratégia é não sermos instrumento de precipitação, porque uma candidatura precoce só servirá para ser fritada por adversários e até mesmo prováveis aliados interessados em deter a candidatura majoritária”, diz um dos estrategistas do PSDB. “Para nós, a única candidatura consagrada para 2006 é a de Lula”, acrescenta a fonte, com esforçada disciplina. Ele admite, porém, que será difícil conter uma euforia pró-Alckmin entre os partidários mais empolgados com a eleição de Serra.

Nesse momento, mais do que alardear as qualidades de Alckmin, os estrategistas tucanos que armam os possíveis cenários para 2006 preferem se dedicar à identificação de fissuras no barco adversário. Assim, embora reconheçam que o PT foi um dos vitoriosos das eleições municipais, eles avaliam que o pleito também provocou “enormes constrangimentos” em aliados do governo, caso do PMDB, PTB e PSB. “Vimos uma intervenção branca no PTB de São Paulo, forçado a ingressar na campanha de Marta Suplicy (PT) e que pode causar algum dano à relação do partido com o governo federal.

Pior ainda foi o episódio envolvendo a candidatura do presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), como vice de Luiza Erundina (PSB): além de ser rejeitado por Marta, o PMDB teve uma derrota desagradável nas urnas e o próprio Michel sofreu constrangimento”, analisa outro tucano.

Além do caso de São Paulo, o PMDB teve “fissuras” com o governo, na visão dos tucanos, em estados como Pernambuco e Rio Grande do Sul. Tentar atrair o PMDB para compor forças é um dos pontos principais em análise pelos tucanos. Admite-se no ninho tucano, ainda que muito remotamente, que o governador poderia negociar seu apoio a um candidato de outro partido na sucessão estadual em troca da constituição de uma chapa forte para a disputa presidencial. Assim, Alckmin também enfrentaria um de seus pontos fracos, a ausência de um “sucessor natural” de seu partido para o governo de São Paulo.

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