Sem acordo, Lula terá de negociar em cada votação. |
A equipe de ministros que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva está formando pode não ser definitiva. Diante da ameaça de perder a presidência da Câmara e a maioria para aprovar as reformas no Congresso, o PT não desistiu da aliança com o PMDB e vai tentar uma nova rodada de negociações em janeiro, antes das eleições para as presidências da Câmara e do Senado, marcadas para o início de fevereiro. PMDB e PT, partidos majoritários na Câmara e no Senado, fecharam acordo em outubro para que o primeiro presidisse o Senado e o segundo a Câmara.
Em conversas com os aliados, o futuro chefe da Casa Civil, José Dirceu, teria dito que não está descartada a possibilidade de o PT voltar a oferecer dois ministérios ao PMDB. Tudo vai depender, porém, de um entendimento entre as duas alas do partido: a comandada pelo atual presidente, Michel Temer, e a composta pelos dissidentes que apoiaram Lula desde o início. “O problema não é do PT, mas do PMDB. A presidência da Câmara está ameaçada. Em janeiro, podemos voltar a conversar”, teria dito Dirceu a um interlocutor. “Esse caminho não tem volta”, responde um peemedebista.
O presidente do PT, José Genoíno, também acredita na retomada das negociações. “O conjunto e a totalidade do ministério não foram anunciados e nós temos ainda que continuar conversando com o PMDB”, afirmou Genoíno. “Esse caminho não tem volta. Se a palavra do chefe da Casa Civil não foi respeitada, quem garante que o acordo para as presidências da Câmara e Senado estará valendo em janeiro?”, questionou o deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).
Dentro
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, disse não acreditar que o PMDB vá ficar fora do governo Lula. Ele prevê que as conversas possam prosseguir, em janeiro ou fevereiro: “É possível reverter. Essa acomodação pode se dar mais à frente, porque ninguém vai dispensar o apoio do PMDB”.
Sem o acordo com o PMDB, o PT teme pôr em risco a presidência da Câmara. O candidato natural ao cargo seria o líder do partido, João Paulo (SP), que já está em campanha. No PMDB, o entendimento dos dirigentes é que o acerto para o comando das mesas da Câmara e do Senado permanece, apesar do fracasso nas negociações para o ministério. O PT conta com o apoio do PMDB para eleger João Paulo, especialmente diante da ameaça do PFL e do PSDB de formalizarem um bloco para disputar o cargo. O PMDB quer reciprocidade no Senado, onde as divergências entre seus integrantes ficam mais evidentes e concorrem os senadores José Sarney (AP) e Renan Calheiros (AL). “Vamos manter a tradição. Acordo é para ser honrado”, provocou o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA).
Aceitação
Dirceu, segundo interlocutores, teria dito que foi o PMDB que não aceitou os nomes propostos por Lula: Pedro Simon (RS) para o Ministério de Minas e Energia e Carlos Lessa, antes indicado para o BNDES, para o Planejamento. Segundo Dirceu, Temer teria argumentado que ambos não representavam o PMDB puro-sangue. A proposta do PMDB era dar o Ministério da Integração para o deputado Eunício Oliveira (CE).
Os partidos da base do futuro governo Lula ficaram preocupados com o rompimento. O presidente do PPS, Roberto Freire, disse que as negociações para aprovação de reformas essenciais, como a da Previdência, vão ficar muito mais difíceis. “Não gosto da situação. Não é muito bom para o futuro governo começar sem ter feito base majoritária. Dá muito trabalho negociar tudo no varejo”, ponderou Freire.