Brasília – PSDB, PFL e PDT criaram ontem, em ato no Senado, a Frente das Oposições pela Ética e pelo Emprego, apontando no primeiro documento conjunto do grupo, três fatores de desgaste do governo: a inércia e a falta de uma política para atender às necessidade do País, a tentativa de acobertar a corrupção e a “falta de autoridade” do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas, em comum acordo, todos os dirigentes partidários foram cautelosos para que os discursos não tivessem um tom alarmista.
Embora não tenham declarado, estão abertos ao diálogo com o governo, desde que isso não implique em “submissão ou adesismo”. “Nossa soma de esforços tem o propósito de fazer bem ao Brasil; nossa oposição é diferente, não joga para o quanto pior melhor”, afirmou o presidente nacional do PSDB, José Serra. Ele e os demais participantes do encontro foram categóricos ao afirmarem que não querem o aprofundamento da crise “porque isso não seria bom para ninguém”.
Mas insistiram quanto à necessidade de a ética retornar ao âmbito do governo. “Essa junção de forças deve ser entendida dentro dessa perspectiva; o Brasil não pode mais continuar com um governo que não governa”, resumiu Serra. O presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), manteve o estilo mais contundente, com críticas diretas a Lula, afirmando que não existe crise de governabilidade no País. “Se há crise, é de autoridade e, se pudermos dar nome à crise, ela se chama Lula”, afirmou.
“Nós queremos que o presidente governe, que exerça seu mandato, não delegue tudo, participe…é isso que a Nação deseja.” Representando o PDT por delegação do presidente nacional do partido, Leonel Brizola, o líder da legenda no Senado, Jefferson Peres (AM), foi também o encarregado de presidir o ato. Ele avisou aos presentes que a frente das oposições não se trata de um pacto com vistas às eleições. “Queremos, sim, que a oposição não seja vista como leniente, que pareça frouxidão ou adesismo e que não seja tão radical que pareça aventureira e golpista.”
Peres disse depois que ele e os colegas estão abertos ao diálogo, se essa for a saída para tirar o País da situação delicada em que se encontra. “O meu temor é que o presidente Lula desande pelo populismo fiscal e monetário para criar falsas bolhas de crescimento”, resumiu.
Preparada sem estardalhaço, a iniciativa da oposição só foi divulgada no dia anterior. Mas lotou a sala da Comissão de Fiscalização e Controle (CFC) de parlamentares e sindicalistas.