Brasília – O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), pediu ontem que os partidos de oposição se juntem e não votem mais nada que seja de iniciativa do Palácio do Planalto enquanto o governo insistir em discriminar os estados. Referia-se ao fato de o governo federal ter seqüestrado R$ 57 milhões do governo de São Paulo para garantir o pagamento de dívidas da Vasp. O PSDB divulgou nota de apoio ao governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) e anunciou boicote ao governo federal. "Não colaboraremos mais, a menos que o governo de Lula se conscientize de que não é o dono do País, que não pode desrespeitar o Congresso, que tem que respeitar o princípio federativo e que não pode dar prosseguimento ao ranço autoritário que marca o governo do PT", afirmou Arthur Virgílio.

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Para o líder tucano, o presidente Lula "precisa pôr na cabeça que a sua reeleição não está acima de qualquer coisa", como, acredita Virgílio, "dão a entender os derrotados nomeados por Lula para cargos de relevância no governo". Em nota assinada pelo presidente e pelo secretário-geral do partido, Eduardo Azeredo e Bismarck Maia, o PSDB registrou seu protesto:

"O partido da Social-Democracia Brasileira – PSDB registra com surpresa e preocupação a tentativa de bloqueio de recursos do Estado de São Paulo pela Secretaria do Tesouro Nacional, em violação da lei e dos princípios do equilíbrio federativo, da boa administração e da convivência política civilizada. Num momento em que o Brasil conta com a maturidade de suas lideranças para enfrentar os sinais de turbulência no quadro econômico externo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assiste sem reação adequada, aparentemente alheio à gravidade do fato, a uma ação administrativa que arranha a soberania de uma unidade da Federação mas golpeia fundo a reputação de seu próprio governo.

A decisão liminar do Supremo Tribunal Federal susta o prejuízo ao Estado de São Paulo mas não repara o dano político causado, em última análise, ao Brasil. O presidente Lula começou esta semana devendo uma explicação ao País: como, por que, com ordem de quem o Tesouro Nacional torceu a lei, ou deixou que a lei fosse torcida, para favorecer com um empréstimo a então prefeita de São Paulo, candidata à reeleição pelo Partido dos Trabalhadores?

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"O que não pode ser explicado não deve ser tolerado. Bem faria o presidente Lula ao País e ao seu próprio governo se afastasse liminarmente os suspeitos de dupla violação dos princípios da legalidade e da impessoalidade na administração pública. Caso contrário, estará dando força à idéia de que resolveu antecipar a disputa sucessória de 2006", diz ele.

Sucessão presidencial já começou

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São Paulo – A cientista política Lucia Hippolito avaliou ontem que as recentes divergências entre os governos federal e do Estado de São Paulo indicam claramente que "está bem viva nas ruas" a sucessão ao Palácio do Planalto para 2006. Para ela, os recentes episódios que culminaram na ascensão à presidência da Câmara pelo deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) e a implosão da medida provisória 232 mostraram que "não será mais um passeio" a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "O presidente ainda tem grandes chances de vencer o pleito no próximo ano. Contudo, a oposição cresceu com a MP 232, especialmente porque percebeu que a classe média – grande responsável pela eleição de Lula – não tolera mais impostos", comentou. "É por isso que o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) começou a falar mais grosso."

Na avaliação da cientista, o governador paulista, Geraldo Alckmin, "está condenado" a ser o candidato tucano e da oposição que disputará as eleições com o presidente Lula no próximo ano. "Será que São Paulo não manterá a tradição de reconduzir Eduardo Suplicy ao senado? Acho difícil. Alckmin tentará ser deputado federal? Também não parece provável", comentou. "Então, caberá ao governador concorrer com Lula, mesmo que tenha poucas chances, pois precisa lançar seu nome num nível nacional, de olho em 2010. Na política, há momentos em que as derrotas fazem parte de um projeto de longo prazo."

Para Lucia, o Palácio do Planalto já percebeu a condição política do governador paulista e já começou a trabalhar para atrapalhar seus planos. "É por isso que a Lei de Responsabilidade Fiscal é interpretada de um jeito pelo ministério da Fazenda para que a ex-prefeita Marta Suplicy não tivesse sido punida", comentou. "Também não foi à toa que a Secretaria do Tesouro seqüestrou R$ 57 milhões numa conta do estado de São Paulo, como garantias de dívidas da Vasp", afirmou. "Todas essas questões econômicas e administrativas têm um nítido fundo eleitoral."