Aécio Neves: imagem ameaçada |
Brasília (AG) – Nessas nove semanas de crise política, PFL e PSDB vêm dando trombadas e mostrando linhas de ação diferentes. O PFL, mais agressivo. O PSDB, cercado dos cuidados de quem já ocupou o poder. Nos últimos dias, contudo, sob intensa provocação petista, as duas legendas se uniram. O surgimento, na CPI dos Correios, de nomes de pessoas ligadas a políticos pefelistas e tucanos reforçou a necessidade de união da oposição.
?Se é para jogar outro jogo, estou aqui?, anunciou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), num discurso que marcou a mudança de atitude tucana, ao chamar insistentemente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ?idiota ou corrupto?.
O contra-ataque do PT se concentrou especialmente na tentativa de implicar o governador de Minas, Aécio Neves, uma das estrelas do PSDB, nas denúncias de caixa 2 e financiamento eleitoral irregular.
A identificação de David Rodrigues Alves, um policial civil mineiro que sacou R$ 4,9 milhões da conta da empresa SMP&B (de propriedade do empresário Marcos Valério), foi usada pelo PT contra os tucanos, assim como as retiradas feitas por pessoas ligadas aos deputados tucanos Custódio Matos e Vanessa Lucas, também de Minas.
?As denúncias que envolvem o PSDB são absolutamente periféricas e sem relação com o esquema de corrupção montado no governo Lula?, rebate o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ).
Não dá para comparar o recebimento de recursos de campanha não declarados com esse esquema. O PT vem trabalhando incessantemente para tentar envolver o PSDB. Mas nem com esse esforço todo conseguiu. Não há figura central do partido implicada.
Coincidência ou não, a semana terminou com a prisão do ex-governador da Paraíba, o tucano Cícero Lucena. PFL e PSDB foram às tribunas da Câmara e do Senado para defendê-lo e acusar a Polícia Federal de querer intimidar a oposição. O fato conseguiu quebrar o silêncio do prefeito de São Paulo, José Serra ? o mais bem colocado pelas pesquisas de opinião na disputa contra Lula em 2006 ? que se mantinha afastado da crise.
?O PT realmente não parece ter limites no abuso com os recursos públicos, com os desvios. E não parece ter limites nos gestos de intimidação?, reagiu Serra, na quinta-feira.
?Fazem uma prisão para figurar nas manchetes dos jornais e estabelecer confusão diante da opinião pública. Por que não fizeram mandado de busca e apreensão nas sedes do PT??, criticou o prefeito.
Tucanos mais incisivos na defesa das investigações
Brasília (AG) – Até para não passar recibo ao adversário e deixar prevalecer a versão de que a lama respinga em todos os partidos, o PSDB, apesar da inquietação, engrossou a voz e unificou o discurso de defesa da investigação profunda das denúncias. Para o deputado Gustavo Fruet (PSDB), acabou o tempo de guerrilha. Ele afirma que não é possível abafar os fatos nem ter receios:
?Não é possível ter um sistema de autopreservação, porque enfraquece a força da argumentação. Mas é preciso entender que se montou nesse governo um grande esquema de financiamento. Pode ter havido outro no governo passado. Mas foi outro, não este. Se aparecer alguém, vamos apurar. Não se trata de não ser solidário, mas vamos apurar?, analisa Fruet.
No PFL, a orientação é a mesma, segundo o líder do partido no Senado, Agripino Maia (RN):
?O PFL não vai proteger ninguém?.
Os pefelistas também foram alvejados pelo adversário com a revelação dos R$ 102 mil doados pela Usiminas para o deputado e ex-ministro da Previdência Roberto Brant, também sacados da conta da SMP&B. O partido aceitou a explicação do parlamentar e elogiou sua decisão de retificar a prestação de contas à Justiça Eleitoral.
Mas há divergências internas. No PFL, há diferentes entonações para tratar da crise. Sem meias palavras, o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) tem falado alguns decibéis mais alto que o tom do líder. Várias vezes acusou o presidente Lula de saber de todas as irregularidades, em ataques duros.
Outra marca da união da oposição foram as ações apresentadas ao TSE contra o PT. Em nome dos partidos, Agripino e Arthur Virgílio pediram a suspensão dos repasses do Fundo Partidário, depois da revelação de que contratos com estatais eram dados como garantia a empréstimos feitos por Valério. As divergências internas, porém, continuam. O senador baiano César Borges, aliado de Antônio Carlos Magalhães, foi além e pediu simplesmente a cassação do registro do PT.
No PSDB, a situação é a mesma. A linha oficial recomenda a ênfase na investigação e nenhuma proposta de mudança nas regras eleitorais em vigor. Há dissidências. O deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) anunciou que para evitar o aprofundamento da crise e um eventual impeachment de Lula, vai propor emenda constitucional antecipando as eleições de 2006 de outubro para o início do ano.
Outra idéia foi abortada: o senador Tasso Jereissati (CE) queria acabar com o instituto da reeleição já em 2006. Foi convencido a refazer o projeto, sugerindo o fim da reeleição apenas em 2010.