Depois de oito meses de obras, orçadas em cerca de R$ 500 mil, será reinaugurada nesta quinta-feira, 02, a Fonte Monumental da Praça Julio Mesquita, no centro de São Paulo. Será o primeiro chafariz paulistano a ter uma espécie de redoma de vidro protetora, à prova de vandalismo.
“Essa proteção não é uma grade que exclui, mas que provoca uma distância valorativa”, afirma a arquiteta Nadia Somekh, diretora do Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) do Município e presidente do órgão paulistano de proteção ao patrimônio, o Conpresp. “Vamos perder o estigma de que as fontes se tornam banheiro público. A fonte será protegida como uma joia da cidade, como uma escultura em um museu “, diz Nadia.
Depois de longo período de seca, a Fonte Monumental é o primeiro equipamento paulistano do tipo que volta a funcionar. Conforme o jornal O Estado de S.Paulo revelou em fevereiro de 2012, todos os 16 chafarizes públicos de São Paulo estavam fora de operação – de acordo com a Prefeitura, por causa de vandalismo e furtos constantes de peças necessárias ao funcionamento.
“A Fonte Monumental estava completamente pichada, com partes faltantes e muita impregnação de urina – havia pessoas que praticamente moravam ali”, diz a arquiteta Fernanda Lapo, da empresa contratada pelo DPH para executar as obras de restauro. “Assim, precisamos fazer a limpeza e a recuperação total do equipamento, para podermos entregá-lo na quinta-feira em pleno funcionamento e com uma proteção de vidro.” No total, dez operários trabalharam no restauro.
A história da Fonte Monumental remonta ao início do século 20 e é cheia de idas e vindas. A ideia vigente era a construção de um “Centro Cívico”, enaltecendo o urbanismo da região central. Em meio a obras de alargamento de vias, transformações de pequenas ruas em largas avenidas e demolição de velhos imóveis, a Prefeitura contratou a escultora Nicolina Vaz de Assis Pinto do Couto (1874-1941) para confeccionar “uma fonte em mármore branco de Carrara e bronze dourado a fogo”, conforme o texto da lei municipal publicada em 1913.
A ideia, de acordo com registros do DPH, era instalar o chafariz-monumento na frente da nova Catedral da Sé – cujas obras começavam naquele mesmo ano, depois da derrubada da velha igreja, em 1911.
Entretanto, o tempo passava e nada de Nicolina entregar a obra. Dez anos após a assinatura do contrato, a Prefeitura resolveu endurecer: em resolução datada de junho de 1923, rompeu com Nicolina “sob pena de cobrança das despesas a que der causa com a aquisição e assentamento da fonte, no local designado, conforme o contrato referido”.
No ano seguinte, surge um novo problema. No episódio imortalizado como Revolução de 1924, a cidade foi invadida por tropas do General Isidoro Dias Lopes (1865-1949). Os bombardeios interromperam serviços e obras. Só depois desse período foi aberta nova concorrência pública para a contratação dos serviços necessários à montagem da fonte.
Quem venceu foi o arquiteto italiano Giovanni Bianchi. A Prefeitura, então, firmou outro contrato e, desta vez, coube ao escultor Roque de Mingo (1890-1972) fundir as peças decorativas de bronze – em forma de lagostas.
A essa altura, as obras de alargamento da Avenida São João haviam resultado na abertura de uma praça em formato triangular, denominada Praça Vitória – em homenagem à Guerra do Paraguai (1864-1870). Decidiu-se, então, instalar a Fonte Monumental ali, em vez de manter o plano original da Praça da Sé.
O monumento foi inaugurado em 1927, ano em que a Praça da Vitória passou a se chamar Julio Mesquita, em homenagem ao diretor do jornal O Estado de S. Paulo de 1891 até 1927. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.