Se a fama do Brasil lá fora é de País do futebol, do carnaval e das belezas naturais, nada melhor que aproveitar a Copa do Mundo para também oferecer aos turistas o contato com o meio ambiente – o carnaval já está embutido na festa. Essa era a ideia por trás de um projeto lançado há três anos pelo governo federal – o Parques da Copa. Mas o Mundial está aí sem que o plano tenha vingado. Na melhor das hipóteses, somente 25% dele foi realizado.
A previsão inicial, anunciada em 2011, era investir R$ 668 milhões em 26 parques federais e em 21 estaduais e municipais, em uma parceria entre os Ministérios do Meio Ambiente (MMA) e do Turismo. No início deste ano, o número de parques foi reduzido para 16 no entorno das 12 cidades-sede, e o Turismo fez pela primeira vez um aporte específico para o projeto: R$ 10,4 milhões.
Esse foi o único valor apresentado tendo como destino direto o Parques da Copa – 1,55% do projetado inicialmente. O Instituto Chico Mendes para a Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão responsável pelas unidades, afirmou, no entanto, que ao longo desses três anos foram investidos em 19 parques (entre eles 16 da Copa) cerca de R$ 171 milhões.
O dinheiro, de acordo com o instituto, foi para infraestrutura (R$ 78 milhões já executados em projetos e obras e mais cerca de R$ 11 milhões em execução); para regularização fundiária (R$ 12 milhões em três parques); e para custeio dos 16 parques (R$ 70 milhões em serviços, vigilância e manutenção).
Para ambientalistas, porém, o valor, que elevaria os gastos para um quarto do que foi prometido, inclui tarefas que são da própria manutenção das unidades e não são relativas a melhorias para o turismo. É o caso do custeio e da regularização fundiária. Em geral, os especialistas consideram que, com poucas exceções, a maioria dos parques no Brasil não tem condições de receber turistas.
De fato, dos R$ 78 milhões de infraestrutura (fatia que realmente importa para o turismo), 85% ficaram concentrados em quatro unidades, segundo dados do ICMBio. Metade foi para o Parque da Tijuca, R$ 15,8 milhões para o de Jurubatiba, R$ 12 milhões para o Parque da Tijuca e R$ 7 milhões para Fernando de Noronha.
Investimentos, que, segundo os especialistas, não fizeram diferença. “Não vimos nenhum caso, ao menos nenhum único parque sequer, que tenha passado por alguma mudança positiva. A verdade é que, tirando os Parques do Iguaçu e da Tijuca, que já eram os mais bem estruturados do Brasil, todos os outros estão em uma situação muito inferior”, afirma Angela Kuczach, diretora da Rede Nacional Pró Unidades de Conservação.
Poucos visitantes
Estudo de 2011 da UFRJ sobre a contribuição que as unidades de conservação poderiam dar à economia nacional calculou que há potencial para obter até R$ 1,8 bilhão por ano com visitação aos quase 70 parques federais do País. Em 2012, com 5,3 milhões visitantes, foram arrecadados menos de R$ 27 milhões.
Manifesto entregue por entidades ambientalistas e associações de turismo ambiental ao governo no início de maio registra que parques dos EUA, em 2008, receberam 275 milhões de visitas e arrecadaram US$ 11,5 bilhões. Ainda segundo o texto, os cinco maiores parques da África do Sul recebem ao ano 4,3 milhões de turistas.
Angela lembra que na Copa anterior, da África do Sul, havia pacotes para os turistas conhecerem os parques nacionais. “Lá eles já sabiam antes de chegar o que visitar. Aqui, quem é que chega a Cuiabá e sabe que a Chapada dos Guimarães está ali do lado?”, indaga.
Beto Mesquita, diretor do programa Mata Atlântica da Conservação Internacional no Brasil, afirma que houve “algum incremento” nas 16 unidades, mas aponta que não foram ações conectadas ao objetivo do programa de estruturar os parques para o uso público. “Foi uma tremenda bola fora”, disse, sem perder o trocadilho.
Outro lado. Sergio Brant, diretor de Criação e Manejo de Unidades de Conservação do ICMBio, declara que o que foi anunciado em 2011 não era um plano propriamente dito, mas uma “tentativa de atrair a atenção dos visitantes para os parques nacionais e direcionar os investimentos”. Segundo ele, “nunca houve de verdade um projeto fechado do que seria feito ou quanto seria aplicado”.
De acordo com Brandt, a cifra de R$ 668 milhões era um cálculo que englobava todo o investimento necessário para aplicar não só nos parques, mas também para que as cidades no entorno das unidades também tivessem uma infraestrutura turística.
“Mas, quando se começa a levantar as cifras, se vê que nem tudo é factível. A intenção era chegar na Copa com uma qualidade de serviço melhor do que a gente tinha antes. Bem ou mal, acho que isso a gente vai conseguir.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.