Transformar petróleo cru em carvão é um dos objetivos de um grupo de pesquisadores do Instituto de Química da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que tem pensado em alternativas para dar fim ao poluente recolhido diariamente das praias do Nordeste. Até esta segunda-feira, 21, já haviam sido recolhidas 98 toneladas do material somente da capital baiana, segundo a Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb).

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Como o aspecto do poluente é viscoso, segundo a Limpurb, é preciso fazer com que a manipulação do material fique mais fácil. Nesse processo, para cada 20 quilos de petróleo cru, utiliza-se 200 mL de removedor de esmalte, álcool comercial 99% e dois quilos de pó de serragem.

Dentro de uma betoneira, bioaceleradores desenvolvidos pelos membros do grupo são usados. Os componentes químicos que compõem a substância auxiliam na degradação do óleo e o transforma em carvão. “Esses bioaceleradores, dois sólidos e três líquidos, não agridem o solo nem os vegetais”, explicou a professora da UFBA Zenis Novais. O processo dura, em média, uma hora.

Essa técnica pode ser aplicada, em média e grande escala, a depender da capacidade dos equipamentos. Segundo a professora, podem ser processados 50 quilos por dia nos equipamentos do instituto, que degradam matéria orgânica, como resíduos de alimentos crus ou cozidos. “Em função dessa eficiência, resolvemos aplicar no petróleo.”

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A cientista explica que esse procedimento pode complementar ou substituir o que se pretende fazer com o petróleo: incinerar. “O processo de incineração produz enxofre, nitrogênio e libera gases que afetam o meio ambiente, provocando chuva ácida e efeito estufa, por exemplo.”

A aplicação do carvão, no entanto, ainda precisa de estudos mais aprofundados. Para além dos membros do projeto, a professora conta que essas análises dependem de profissionais de outras áreas, das autoridades e de órgãos que cuidam da limpeza da cidade.

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Segundo a professora, a depender da composição, o carvão pode ser misturado com terra vegetal e ser colocado nas plantas, como uma espécie de adubo. Outra opção é ser usado como combustível no processo de produção do cimento.

“Se a gente pensa na construção civil, eu preciso dos meus colegas para fazerem novos estudos”, afirma Zenis.

O material conseguido até o momento foi cedido por voluntários. Outra pequena parte foi coletada pelos próprios membros do grupo na Praia de Ondina, bairro onde está localizado o Instituto de Química. No entanto, de acordo com Zenis, ela não tem equipe suficiente para ir a praias mais distantes fazer a coleta.

Perguntada sobre a possibilidade de órgãos oficiais firmarem parceria com o Instituto de Química para desenvolver o projeto, Zenis diz que funcionários da Agência Nacional de Petróleo (ANP) e da Limpurb mostraram interesse no projeto.

A ANP informou, em nota, que não está envolvida oficialmente no projeto. Ressaltou, no entanto, que “a agência está acompanhando a situação do óleo e faz parte do Grupo de Acompanhamento e Avaliação, junto com a Marinha (que o coordena) e o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis)”.

A Limpurb afirmou que todo óleo recolhido está em um depósito temporário na sede do órgão até que as autoridades competentes decidam pelo destino final do material. Questionados sobre uma possível parceria com o Instituto de Química, o órgão municipal informou que não pode falar sobre o assunto.

“Não somos responsáveis pelo destino final. O Ibama irá informar para onde vai e o que será feito com isso.” Procurado pela reportagem, o Ibama não havia se posicionado até a publicação desta matéria.