A previsão referente ao abastecimento de água potável para os habitantes do planeta é alarmante. De acordo com a ONU, atualmente 29 países não possuem água potável disponível para atender a população, e em 2025, 2/3 da população mundial estarão sujeitos a problemas de abastecimento, o que corresponde a 2,8 bilhões de pessoas.
Já é de conhecimento público os cálculos dos especialistas dizendo que 95,1% da água do planeta é salgada, sendo imprópria para consumo humano. Dos 4,9% que sobram, 4,7% estão na forma de geleiras ou regiões subterrâneas de difícil acesso e somente os 0,147% restantes estão aptos para o consumo em lagos, nascentes e lençóis subterrâneos.
É axiomático que a água é um dos substratos indispensáveis à vida, 2/3 do corpo humano são por ela constituídos.
A poluição, a impermeabilidade do solo, principalmente em grandes centros urbanos, o aumento do consumo e as mudanças climáticas estão agravando o quadro de escassez.
Diante destes fatos e outros estudos recentemente desenvolvidos em grandes empresas, constata-se que, infelizmente, com o passar dos anos, a água doce disponível é na realidade um recurso finito da natureza, no entanto, as reservas naturais vêm sendo dramática e paulatinamente destruídas com o crescimento desordenado da população mundial, devendo-se, a qualquer custo, racionalizar o seu uso.
Em março de 2000, especialistas no assunto do mundo inteiro, reunidos em Haia, na Holanda, para o segundo Fórum Mundial de Águas, foram informados que o Brasil possui 1/5 de toda a água livre do mundo, detém 77% das águas de superfície da América do Sul e é um dos que mais sofrem com o desequilíbrio entre a oferta e a demanda, o desperdício, a poluição ambiental e a violação das áreas de preservação dos cursos de água. O governo brasileiro, fazendo sua parte, tem estimulado vários projetos de preservação, as ONGs, da mesma forma, têm se mobilizado em torno do assunto.
A Agência Nacional de Águas (ANA), cuja criação está sendo discutida no Congresso Nacional, terá como objetivo estabelecer uma série de princípios a médio e longo prazo, prevendo políticas básicas de proteção aos mananciais a fim de garantir boa água para o consumo. A principal tarefa, ao que parece, será a urgente reestruturação do modelo de gestão de recursos hídricos no Brasil.
A Sanepar distribuiu a Cartilha da Economia, onde, com propriedade, menciona que “água que você não gasta, é água que você não paga”. Tal veículo fornece ainda diversos conselhos de como é importante economizar, exemplifica a quantidade de litros de água perdidos ao lavarmos as mãos, qual o percentual gasto quando da utilização dos vasos sanitários e qual o consumo de água nos banhos domésticos, orientando o usuário para diminuir o fluxo do chuveiro e ensaboar-se com ele fechado, tudo para não desperdiçar.
Diariamente, gasta-se de 50 a 200 litros de água no consumo doméstico, incluídos banho e preparo de alimentos; há muitas formas de se economizar e evitar crises no abastecimento, com o uso racional, com investimentos em infra-estrutura, que são responsabilidade dos governos, e sólidas campanhas de conscientização, só então cada cidadão poderá fazer também a sua parte.
Com o objetivo de estimular a população curitibana a fazer sua parte contra a escassez de água, e crises de abastecimento, com base nestes dados e na idéia do professor Luiz Campestrini, está em tramitação na Câmara Municipal de Curitiba o projeto de lei ordinária n.º 05.00184.2001, que “institui o Programa de Reaproveitamento de Águas provenientes de lavatórios, banheiros, chuvas”, de iniciativa deste vereador.
A criação do professor Campestrini prevê a instalação de um reservatório de água na base do chuveiro ou em outro lugar conveniente, que possa coletar a água de chuvas, e aquelas utilizadas nos lavatórios e banheiras, para o aproveitamento direto na higienização de vasos sanitários. A idéia é simples e a economia no consumo gira em torno de 33%, que é o volume de água mínimo gasto por uma pessoa em um banho diário.
O conceito de reuso de águas não é novo, foi criado pela ONU em 1958, e o princípio consiste em não desperdiçar água de qualidade para usos que toleram água de qualidade inferior.
O modelo ora utilizado (vide ilustração), de captação de água do chuveiro supre com folga a higienização do vaso sanitário com o reuso direto.
A instalação do sistema deve ser feita quando de reformas ou novas construções, e o custo é de aproximadamente mil reais.
A adesão ao Programa de Reaproveitamento de Águas não pára com a implantação do sistema somente no chuveiro, permite ao usuário reaproveitar águas onde julgue conveniente, assim poderá reutilizá-la na lavagem de carros, calçadas e pátios, irrigação de áreas verdes, decorações urbanas, chafarizes, espelhos de d’água, fontes, e onde a necessidade se fizer, gerando uma economia de até 70% da água potável de qualidade.
Vários países já aplicam o reuso de águas. No Japão, por exemplo, foram mudadas as regras da construção civil. Lá, os condomínios, hotéis e hospitais passaram a ser construídos com sistemas particulares de reaproveitamento de águas servidas. A água que sai do ralo, do box ou da banheira, segue por canos independentes até pequenos reservatórios, abastecendo os sanitários das respectivas construções. Só então esta água vira esgoto, que em muitas cidades ainda é tratada para mais uma reutilização em processos industriais. No mesmo país, os trens são lavados com água reusada. Várias empresas, aqui mesmo no Brasil, também já aplicam no seu cotidiano industrial o reuso de águas.
Para o reuso da água há que se ter em mente duas questões precípuas: a primeira é a necessidade de planejamento e a segunda, a aplicação coerente no reuso.
Paulo Salamuni é advogado, vereador de Curitiba pelo PMDB e líder da bancada na Câmara Municipal de Curitiba.