Um grupo de professores de universidades públicas paulistas vai ingressar na Justiça nesta terça-feira, 10, com uma ação popular para anular o ato do governador João Doria (PSDB) que recolheu apostilas da rede pública estadual. O governador considerou que o material didático, destinado aos estudantes do 8º ano do ensino fundamental, fazia apologia ao que chama de “ideologia de gênero”.

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Os professores são das Universidades de São Paulo (USP), Estadual de Campinas (Unicamp), Federal do ABC (UFABC), Federal de São Paulo (Unifesp), Federal de São Carlos (UFSCar) e do Instituto Federal de São Paulo (IFSP).

Na ação popular, os docentes requerem a concessão de uma medida liminar para suspender imediatamente o recolhimento das apostilas. Eles ainda pedem que elas não sejam “descartadas, destruídas, avariadas” e que sejam devolvidas a todas as escolas e alunos em plenas condições de utilização.

No dia 3 passado, Doria escreveu em seu perfil no Twitter que a governo havia sido alertado sobre um “um erro inaceitável no material escolar dos alunos do 8º ano da rede estadual” e pediu uma apuração sobre os responsáveis pela apostila. “Não concordamos e nem aceitamos apologia à ideologia de gênero”, declarou, na rede social, o governador.

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Os professores que entraram com a ação chamam o recolhimento da apostila de “censura” e argumentam que o material apresenta diferentes formas de expressão da sexualidade humana.

O livro traz um texto chamado “Sexo biológico, identidade de gênero e orientação sexual”, que aborda a diversidade sexual e explica diferentes termos como “transgênero”, “homossexual” e “bissexual”. No caso de “transgênero”, por exemplo, a definição é “pessoa que nasceu com determinado sexo biológico e que não se identifica com o seu corpo”.

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No material, há o seguinte trecho: “Podemos dizer que ninguém ‘nasce homem ou mulher’, mas que nos tornamos o que somos ao longo da vida, em razão da constante interação com o meio social”.

Na ação, os professores afirmam que Doria violou a Constituição, a legislação educacional e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). “É inaceitável que um documento curricular recém-aprovado e que preconiza o ensino de aspectos socioculturais, afetivos e éticos da sexualidade seja utilizado para justificar atos de censura”, afirmou, em nota, o professor da UFABC Fernando Cássio, um dos autores da ação. “Não há justificativa.”

Para o professor Salomão Ximenes, também da UFABC, o ato do governador foi autoritário. “O autoritarismo do ato de censura violou regras básicas de funcionamento do sistema educacional e de direito à educação”, declarou, em nota, Ximenes. “Não cabe ao governador produzir o currículo com base em sua própria ideologia, essa é uma tarefa que lei atribui aos profissionais da educação, seguindo as diretrizes curriculares aprovadas nas instâncias competentes.”

A ação é movida com apoio do Coletivo de Advocacia em Direitos Humanos (CADHu). Procurado, o governo de São Paulo não se manifestou sobre a ação até a publicação desta matéria.