A professora Adriana Tufaile caminhou, na manhã desta terça-feira, 8, os 2,2 quilômetros entre sua casa e a Universidade Cidade de São Paulo (Unicid), no Tatuapé, zona leste, com um carrinho de feira e uma sacola plástica cheios de equipamentos eletrônicos. Era o material para a aula de Eletricidade, que daria para os alunos da graduação em Licenciatura em Ciências da Natureza da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (Each), da USP.
Após a interdição do câmpus da USP Leste em decorrência de problemas ambientais, as aulas foram deslocadas para a Unicid, para uma Fatec do Tatuapé e para outras unidades da universidade. No entanto, uma semana e meia após o início (já atrasado) das aulas, professores continuam relatando dificuldades e alguns já consideram a possibilidade de cancelar as disciplinas. Um pedido de verba para continuar pesquisas também está em estudo.
“Parte do equipamento que estou trazendo é meu e parte é da própria USP. Fomos até o câmpus ontem para resgatar algumas coisas. Na quinta-feira, quando a aula é na Escola de Enfermagem, na Avenida Doutor Arnaldo, tenho de levar tudo de carro ou de metrô”, conta Adriana, que dá aulas de Laboratório de Física. “A Unicid tem laboratórios de Física, mas a reitoria alugou apenas as salas de aula, e não os laboratórios.”
Para a professora Michele Schultz, no entanto, não existe a possibilidade de fazer o transporte do material necessário para as suas aulas práticas. Ela dá aulas de Fundamentos Biológicos, disciplina que inclui conteúdos de anatomia humana e é dividida entre aulas práticas e teóricas. Fora do câmpus, ela está sem os modelos anatômicos necessários para a disciplina.
Mesmo os professores que não têm aulas práticas relatam outras dificuldades. Uma das principais reclamações dos alunos é a falta de um bandejão. “Como ensinar para um aluno com fome e que tem dificuldades para chegar à universidade?”, questiona a professora Elisabete Franco, do curso de Obstetrícia. Segundo um levantamento feito por Michele em sua última aula, 17 dos 55 alunos não haviam almoçado.
Além da falta de bandejão, a distância da zona leste para algumas unidades da USP está entre as principais reclamações. Relatos estão sendo coletados no site eachseusproblemas.wordpress.com.
Reunião
Nesta quarta-feira, 9, em uma reunião da Congregação da USP Leste, órgão máximo da unidade, os professores pretendem discutir uma série de demandas. Um pedido de uma verba de R$ 10 mil para cada um dos professores-pesquisadores está sendo considerado. A unidade tem cerca de 250 docentes realizando atividades de pesquisa, ensino e extensão, o que resultaria em um gasto de ao menos R$ 2,5 milhões.
Em nota divulgada na sexta-feira, a direção da unidade diz que está buscando soluções. Entre as medidas mencionadas na nota estão uma solicitação feita à São Paulo Transporte (SPTrans) para que seja aumentada a frequência de ônibus da Cidade Universitária para a Estação Butantã do Metrô no período noturno. Um bandejão na Fatec também foi prometido. A instalação deve ser concluída até o fim da semana.
A direção também afirma que aparelhos de exibição de apresentações foram instalados nas 26 salas da Unicid e o transporte de computadores da Each para a instituição também começou. Para as aulas em laboratório, no entanto, ainda não há definição. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.