O pronunciamento do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, agradou ao mercado internacional de forma geral e particularmente aos especialistas de Wall Street, principalmente porque não trouxe surpresas e também porque deu o tom do que poderá ser o futuro governo do PT. Na opinião do diretor de pesquisa para mercados emergentes do banco UBS Warburg, Michael Gavin, ?foi um discurso positivo e tranqüilizador, especialmente no tocante ao respeito aos contratos e outros pontos de campanha?, disse.

?Também importante foi o fato de Lula ter dito para não se esperar soluções mágicas, trazendo para um nível mais realista as expectativas que vinham se construindo nos últimos dias?. Ele acredita que o mercado dará apoio, mas é preciso avançar nas ações no Congresso, no tocante à aprovação de medidas necessárias, como reforma tributária.

Transição – Para o estrategista senior de renda fixa para mercados emergentes da Merrill Lynch, Felipe Illanes, o pronunciamento de Lula foi em linha com o que os analistas e investidores estavam esperando. ?Ele reafirmou exatamente as promessas de campanha, pelo menos no aspecto econômico, e com uma visão pragmática?, afirmou. Para ele, as palavras de Lula terão efeito ?neutro? nos mercados financeiros. ?Por conta da alta registrada na semana passada, ficará mais difícil que os preços dos ativos brasileiros continuem subindo sem haver eventos concretos, como, por exemplo, a nomeação da equipe econômica e não somente a equipe de transição?, explicou, acrescentando que só poderá haver algum impacto se a equipe de transição incluir algum nome novo.

Londres – Na Inglaterra, o diretor da corretora Liabilities Solutions, Wilber Colmerauer, afirma que ?não se pode colocar o carro na frente dos bois?. Ele acredita ser preciso ?dar tempo ao tempo para que as coisas do novo governo se arranjem?.

O mercado, diz, aprova as intenções sinalizadas pelo PT, mas é fundamental que haja rapidamente um detalhamento dessas medidas. ?Já foi falado sobre reforma tributária e fiscal e de autonomia do Banco Central, mas isso precisa ser agora explicitado em um espaço de tempo razoável.?

O novo governo terá uma missão difícil, mas não impossível no que diz respeito às soluções econômicas, acredita Colmerauer. ?As turbulências externas tornam o cenário mais complexo e exigirão esforço maior.? Nesse sentido, acredita, um aumento do superávit primário terá de ser acertado com o Fundo Monetário Internacional, mas a medida ?não resolve tudo por si só?.

Para ele, o PT deve trabalhar para melhorar os contatos com a comunidade internacional. ?Acho que as relações públicas internacionais deixaram a desejar. Isso explica o certo pânico que mercado teve. Nunca se peca por excesso no diálogo com a comunidade internacional?, declarou.

O comportamento dos ativos até o final do ano dependerá muito do cenário externo, que tem comandado as pressões, disse Colmerauer. ?Um cenário internacional menos negativo abre chances para uma recuperação de preços no Brasil?, avaliou, lembrando que os papéis estão extremamente deprimidos, e isso tende a melhorar.

Segundo ele, o desempenho apresentado pela balança comercial e pelas transções correntes no último mês oferecem condições para que o dólar atinja R$ 3,60 se não houver contratempos externos.

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