Brasília – A bancada oposicionista na CPI Mista já recebeu informações e documentos sobre a evolução da carteira de investimentos em ações da Previ durante o ano eleitoral de 2002. Ela registrou um crescimento abrupto – de R$ 1,6 bilhão em 2001 para mais de R$ 5,9 bilhões – a partir de uma ?reavaliação de ativos? do fundo do Banco do Brasil na Companhia Vale do Rio Doce. A Previ integra o consórcio Litel, que compõe o controle acionário da Vale. Até então, sua parte na Litel estava avaliada em cerca de R$ 300 milhões.
Durante a campanha, o então diretor de Participações da Previ, Sérgio Ricardo Silva Rosa (atual presidente), enviou carta aos representantes da fundação nos conselhos administrativos das 100 maiores empresas nas quais a entidade detém participação acionária relevante. Na carta, Rosa apresentou-lhes uma cartilha do Instituto Ethos com o título: ?A responsabilidade social das empresas no processo eleitoral?.
E escreveu: ?Após apreciação do material enviado, solicitamos que nos seja repassada a informação de como o assunto está sendo abordado na empresa em que nos representa, se está pautado para debate e qual o posicionamento adotado quanto à participação efetiva no processo (eleitoral). Ao mesmo tempo, estamos abertos a receber sugestões e considerações de como aperfeiçoar nosso encaminhamento sobre o assunto?.
Parlamentares estranham o pedido, que consideram dúbio, e a convocação aos conselheiros das empresas para enviar ao fundo ?sugestões e considerações de como aperfeiçoar nosso encaminhamento? sobre a efetiva participação das empresas no processo eleitoral. No governo Lula, Rosa foi nomeado presidente da Previ. Procurado sexta-feira, não se manifestou.
Registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) indicam que candidatos do PT destacaram-se entre os principais beneficiários de doações financeiras realizadas pelas maiores empresas privadas nas quais a Previ tem influência acionária relevante.
O domínio do PT no comando dos fundos foi ampliado na gestão Lula. Até 2002, o governo nomeava metade da diretoria e os sindicatos ligados à CUT venciam eleições para a indicação da outra metade. Com a posse de Lula, o que era paritário ficou único: todos os administradores passaram ter a mesma origem, com óbvio crescimento do PT.
A CPI Mista começou a investigar também operações realizadas nos últimos 12 meses entre fundos estatais (Previ, Funcef e Petros) e bancos como o Rural e o BMG, que concederam empréstimos ao PT, o Mercantil do Brasil, o Panamericano, e o Banco Santos, agora sob intervenção federal. Há indícios de que parte delas teria sido feita com triangulação – beneficiando intermediários ligados ao governo e a partidos aliados.